Filosofia clandestina denomina um gênero de textos filosóficos produzidos e circulados anonimamento, ou sob pseudônimos, e frequentemente em forma manuscrita, principalmente no século XVII e XVIII, de teor predominantemente materialista, anticlerical e libertino. Não obstante, a literatura clandestina em geral não se limita ao materialismo, compreendendo publicações de tendências religiosas heterodoxas, como o jansenismo, quietismo, judaismo e ocultismo, ou mesmo simples narrativas pornográficas e satíricas. O corpus clandestino inclui pelo menos 290 textos preservados em bibliotecas europeias e norte-americanas, cujos textos variam entre panfletos de algumas poucas páginas, até tratados com mil páginas.
A emergência dessa tradição clandestina respondia às demandas de expressão de um pensamento heterodoxo diante de uma situação de controle e censura de textos por variados mecanismos religiosos e políticos, significando também uma crescente autonomia intelectual de sujeitos à margem dos espaços dominantes da universidade e da Igreja, ou que circulavam discretamente esses meios, enquanto desenvolviam suas ideias de maneira paralela e parcialmente secreta. De fato, muitos autores desses manuscritos eram figuras estabelecidas da política e do clero, que mantinham um vida dupla filosófica, desde príncipes como Eugénio de Saboia, à clérigos como Jean Meslier.
A pesquisa acadêmica tem reconhecido gradativamente a importância desses textos no pensamento do principais filósofos do Iluminismo e da filosofia do século XVIII, que inclusive iniciaram um campanha para a impressão desses manuscritos na segunda metade do século, frequentemente recorrentes à impressão em países estrangeiros e mantendo uma circulação clandestina. A qualidade argumentativa desses textos variava entre peças mais propagandísticas, e obras de sofisticação filosófica que antecipam ideias atribuidas à momentos posteriores.
Textos notáveis
Theophrastus redivivus
Outros
Referências
- ↑ Hecht, Jennifer Michael (2004). Doubt: A History. HarperOne. pp. 325, ISBN 0-06-009795-7.
- ↑ Hall, H. Gaston (1982). A Critical Bibliography of French Literature; Volume III A: The Seventeenth Century Supplement. Syracuse University Press. pp. 369, ISBN 0-8156-2275-9.
- ↑ Craig, Edward (1998). Routledge Encyclopedia of Philosophy. Routledge. pp. 375, ISBN 0-415-07310-3.
- ↑ Hunter, Michael. Wootton, David (1992). Atheism from the Reformation to the Enlightenment. Oxford University Press. pp. 33, ISBN 0-19-822736-1.
Bibliografia