FaSinPat, sigla de Fábrica Sin Patrones (Fábrica Sem Patrões), é uma fábrica de pisos de cerâmica localizada na cidade de Neuquén, Argentina.Encontra-se sob o controle de seus trabalhadores desde o começo do ano de 2002, logo após o fechamento de Cerâmica Zanon, que quebrou no final de 2001. É uma das fábricas que mais se destacam do movimento de empresas recuperadas da Argentina.
Seu início: Cerâmica Zanón
A fábrica, anteriormente conhecida como Zanon, foi aberta no ano 1979 pelo empresário italiano Pedrito Zanon, também fundador do Italpark de Buenos Aires.[1] A fábrica foi construída em terrenos públicos e com dinheiro proveniente de créditos, entre eles um estatal que nunca foi reembolsado.[1] Na cerimônia inaugural, Luigi Zanon parabenizou o governo militar por «manter a Argentina segura para os investimentos».[1]
A empresa se instalou em Neuquén, não apenas atraída pelo regime de promoção industrial, mas também por sua localização estratégica para realizar exportações através dos portos chilenos.[2]
A fábrica viveu anos de esplendor durante os anos ´80 e ´90. Os subsídios mantiveram-se durante a presidência de Carlos Menem e do então governador de Neuquén, Jorge Sobisch.[1]
A última grande aposta de Zanon foi a inauguração de uma linha de produção de porcelanato, uma cerâmica com estilo e de alta resistência.[2] No entanto, a recessão econômica que afetava o país começou a ser sentida na indústria nacional.[2]
Crise de 2001
Durante os anos noventa, a empresa contou com a cumplicidade do sindicato e do Ministério de Trabalho para atuar sem maiores inconvenientes, no entanto, em 2000, produziu-se uma troca na dirigência do sindicato, que tornou-se mais combativo, conseguindo frear as demissões que Zanon planejava realizar.[1] A empresa contestou, por sua vez, apresentando um recurso preventivo de crise no Ministério de Trabalho da Nação, um recurso legal para despedir mais pessoal que o permitido e mudar os contratos.[1]
Nesse meio tempo, em julho de 2000, morreu o trabalhador Daniel Ferrás num acidente trabalhista, o que provocou a explosão das demandas operárias.[1] Finalmente, o Ministério de Trabalho revogou o preventivo de crise, enquanto os dirigentes mais combativos se firmavam na condução do sindicato.[1]
Em 2001, enquanto as vendas de Zanon despencavam, a empresa alegou ter problemas para pagar os salários a seus empregados, que começaram a receber com atrasos e em parcelas.[2] Em plena crise econômica, a empresa deixou de pagar serviços e fornecedores.[1] Mediante a ameaça de um iminente fechamento da fábrica, no dia 3 de outubro, os trabalhadores decidiram tomar o edifício impedindo a entrada dos gerentes, como uma tentativa desesperada por conservar sua fonte de trabalho.[2] A Justiça ordenou, em quatro oportunidades, o despejo para que os representantes do concurso de credores pudessem realizar um inventário de bens, mas os trabalhadores resistiram à medida.[2]
Em novembro de 2001, Zanon comunicou oficialmente o fechamento da fábrica e a demissão de seus 380 empregados.[2] Pouco depois, a juíza da área trabalhista de Neuquén, Elizabeth Rivero de Taiana, declarou que a empresa tinha realizado um lock out patronal, dando razão a uma apresentação judicial impulsionada pela associação dos ceramistas contra Zanon.[2] Além disso, a justiça determinou a apreensão de 40% do estoque para pagar salários.[1]
Controle operário: 2002
Ao princípio, a tomada não teve resistência por parte de Luigi Zanon. No entanto, em janeiro de 2002, o governo nacional abandonou a paridade de um para um entre o peso argentino e o dólar americano, decretando, além disso, a "pesificación" de todas as dívidas, isto é, a conversão das contas em dólares a pesos argentinos como modo oficial de câmbio. Como resultado desta mudança no ambiente econômico, a ex Zanon (rebatizada FaSinPat) voltou a ser um negócio rentável, de modo que Luigi Zanon tentou exigir a propriedade da fábrica.
O projeto de reativação apresentado por Zanon contemplava a utilização de 10% da capacidade das instalações e o emprego de 62 funcionários. Segundo a proposta, a produtividade e os demais postos de emprego se recuperariam gradualmente, mas a oferta foi recusada pela associação dos ceramistas.[2]
Enquanto se resolvia o conflito judicial, os funcionários começaram a preparar a reativação da fábrica, que voltou a funcionar em março de 2002.[2]
Inicialmente, a mercadoria era vendida diretamente na porta da fábrica, mas, com o tempo, os trabalhadores foram organizando uma rede de distribuição que lhes permitiu chegar a diferentes cidades do norte da Patagonia e da província da Pampa, ou aos principais centros de consumo interno, como Rosário, Córdoba ou Buenos Aires.[2]
Em 8 de abril de 2003, a Gendarmería, principal força de segurança da República Argentina, tentou pela última vez o despejo dos trabalhadores, no entanto, o forte apoio de outros grupos sociais, sindicais, educativos e eclesiásticos dissuadiu as autoridades para suspender a operação.[1]
Economicamente, FaSinPat tem sido um sucesso. Durante os quatro primeiros anos de operações, foram contratados mais de 170 novos trabalhadores, chegando a um total de 410 em abril de 2005. FaSinPat cultivou as relações com a comunidade vizinha. Ao princípio, a fábrica recuperada doou pisos a centros comunitários e ao hospital e organizou atividades culturais.
Em 2005, FaSinPat votou a favor de construir uma clínica de saúde comunitária no bairro pobre de Nova Espanha. Os habitantes de Nova Espanha solicitavam uma clínica ao governo da província há duas décadas; FaSinPat a construiu em três meses. O apoio da comunidade tem sido importantíssimo para proteger a fábrica das ameaças às quais é submetida.
Apoio de artistas
Alguns artistas que reconheceram o esforço dos operários são:
As Mãos de Filippi —realizou um recital nas instalações e compôs uma canção para a fábrica—.
Ska-P —realizou um concerto o 30 de outubro de 2010 nas instalações—.[3]
Divididos—prometeram dar um concerto no predio de fábrica durante o ano 2009—.
Rage Against the Machine —convidou aos operários de Zanon para subir ao palco durante o show do 13 de outubro de 2010—.
Manu Chao —convidou aos operários a subir ao palco durante um show em Neuquén em dezembro de 2009, além de se apresentar em 20 de novembro de 2011—.[4]
Osamenta —esta banda de thrash metal compôs o tema Fabrica sin patrón para seu disco Subversivo de 2011. O refrão diz: «Isso foi Zanon, já foi o patrão. Hoje são FaSinPat... uma esperança!»—.
No Relax —Joxemi e Micky realizaram uma intervenção no recital de Jauria nas instalações no décimo aniversário—.
Dulevànd Fragile Rivolta (The story of FaSinPat), uma canção para os operários da fábrica (Frágil Revolta).
FaSinPat: Filmes
No ano 2004, se estreia um documentário sobre a história de FaSinPat, chamado "Fasinpat, fábrica sem patrão". Foi produzido e dirigido pelo cineasta italiano Daniele Incalcaterra. O filme se posicionou em defesa dos trabalhadores, em contraste com o manejo midiático que, na Itália, tinha tentado respaldar Luigi Zanón e desacreditar a luta operária, a considerando uma espoliação ao capital de seu dono.
Obteve diversos reconhecimentos, alguns dos mais importantes são:
Seleção argentina BAFICI 2005
Primeiro prêmio FILMAKER Milano 2004
Seleção Festival de Toulouse 2004
Seleção Festival de Tandil 2004
Seleção Festival du Réel Paris 2003
Seleção Festival de Mar do Prata 2003
Em 2008, se estreou outro documentário sobre FaSinPlat, "Coração de Fábrica", dirigido por Ernesto Ardito e Virna Molina. O filme foi gravado durante 2005 e lançado em 2008, depois de dois anos de montagem. Há duas versões, uma original de 129’ e outra curta de 58’.Obteve 9 prêmios internacionais:[5]
Primeiro Prêmio Kodak ao Melhor Projeto Latino-americano. Festival Internacional de Cinema Contemporâneo da Cidade de México (FICCO-Cinemex) México 2009.
Primeiro Prêmio ao Melhor Documentário. Concurso Internacional “Otras Miradas”, organizado pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO) 2008.
Prêmio Especial do Júri na Concorrência Internacional. Festival Internacional de Cinema Documentário da Cidade de México – DOCS DF – México, 2009.
Prêmio Especial do Júri. Festival de Cinema Latino-americano da Cataluña, Espanha, 2009.
Melhor Filme Documentário Iberoamericano. Festival Internacional de Cinema de Cancún, México, 2009.
Melhor Longa-metragem Documentário. Festival Internacional de cinema comunitário e alternativo “Olho ao Sancocho”, Colômbia, 2008.
Primeiro Prêmio “A descoberta de um jovem cinema argentino”. Festival A Sudestada, Paris, França, 2010.
Ganhador da Bolsa Jan Vrijman Fund. Festival Internacional de Documentários de Amsterdã – IDFA.
Claudia Korol (2005). Operários sem patrão: sistematização da experiência dos operários e operárias de Zanón. Mães de Praça de Maio (Association). Equipa de Educação Popular. Lenços em Rebeldia. ISBN 978-9871231072.