A designação de extrema-esquerda ou esquerda radical, às vezes também esquerda revolucionária, é aplicada, em todo o mundo, a um grande e diversificado conjunto de correntes de pensamento e organizações situadas no campo da esquerda política que têm como objetivo comum a superação do capitalismo, por meio de uma revolução cultural, da instauração de uma sociedade igualitária, coletivista, e a abolição da propriedade privada dos meios de produção. Em geral, considera-se, de maneira um tanto simplificada e imprecisa, que a extrema esquerda esteja situada mais à esquerda, no espectro político, do que a esquerda política "tradicional", a qual também pode variar segundo o contexto.
A definição da extrema-esquerda varia na literatura e, embora não haja um consenso sobre suas características essenciais - além de estar à esquerda da "esquerda".[carece de fontes?] Em França, extrême-gauche ("extrema-esquerda") é um termo geralmente aceite pelos grupos políticos que se posicionam à esquerda do Partido Socialista, embora alguns, como o cientista político Serge Cosseron, limitem o âmbito à esquerda do Partido Comunista Francês.[6]
Estudiosos como Luke March e Cas Mudde propõem que os direitos socioeconómicos estão no centro da extrema-esquerda. Além disso, March e Mudde argumentam que a extrema-esquerda está à esquerda da "esquerda" no que diz respeito à forma como os partidos ou grupos descrevem a desigualdade económica com base nas disposições sociais e políticas existentes[7]. Luke March, Professor Superior de Política Soviética e pós-soviética na Política e Relações Internacionais da Universidade de Edimburgo, define a extrema-esquerda como aqueles que se posicionam à esquerda da social-democracia, que é vista como insuficientemente de esquerda.[8] Os dois principais subtipos da política de extrema-esquerda são chamados "a esquerda radical" e "a extrema-esquerda". O primeiro deseja mudanças fundamentais no capitalismoneoliberal e uma reforma progressiva da democracia, como a democracia direta e a inclusão de comunidades marginalizadas,[9] enquanto a segunda denuncia a democracia liberal como um "compromisso com as forças políticas burguesas" e define o capitalismo de forma mais rigorosa.[7]
Em geral, a extrema-esquerda é considerada radical porque preconiza transformações fundamentais na estrutura socioeconómica capitalista.[10] March e Mudde afirmam que os partidos de extrema-esquerda são atores políticos cada vez mais estabilizados que desafiam os principais partidos social-democratas, e definem outras características da extrema-esquerda como o internacionalismo e um enfoque no trabalho em rede e na solidariedade, bem como a oposição à globalização e ao neoliberalismo.[10] Na sua posterior conceptualização, March começou a referir-se à política de extrema-esquerda como "política de esquerda radical", adotada por partidos de esquerda que rejeitam os princípios e valores do capitalismo.[11]
Partidos de esquerda radical
Na Europa, geralmente, o apoio à política de extrema-esquerda provém de três grupos sobrepostos, nomeadamente as subculturas de extrema-esquerda, os social-democratas descontentes e os eleitores de protesto, incluindo, eventualmente, aqueles que se opõem à adesão do seu país à União Europeia.[12]
Para distinguir a extrema-esquerda da esquerda moderada, Luke March e Cas Mudde identificam três critérios úteis:[13]
Em primeiro lugar, a extrema-esquerda rejeita a estrutura socioeconómica subjacente ao capitalismo contemporâneo.
Em segundo lugar, defende estruturas económicas e de poder alternativas que envolvem a redistribuição de recursos em posse das elites políticas.
Luke March afirma que "em comparação com o movimento comunista internacional há 30 anos, a extrema-esquerda passou por um processo de profunda desradicalização. A extrema-esquerda é marginal na maioria dos lugares". March identifica quatro grandes subgrupos dentro da política europeia contemporânea de extrema-esquerda, nomeadamente comunistas, socialistas democráticos e social-populistas.[15][16] Numa conceção posterior da política de extrema-esquerda, March escreve que "prefiro o termo 'esquerda radical' a denominações alternativas tais como 'esquerda dura' ou 'extrema-esquerda', que podem parecer pejorativas e implicar que a esquerda é necessariamente marginal". De acordo com March, os partidos de extrema-esquerda mais bem sucedidos são "pragmáticos e não ideológicos".[17]
O terrorismo de esquerda, que não necessariamente representa a extrema-esquerda, visa derrubar o sistema capitalista, por meios violentos, e substituí-lo por uma sociedade socialista ou comunista. O terrorismo de esquerda também pode ocorrer em Estados que já são socialistas como forma de ativismo contra o governo no poder.[18][19]
A maioria dos grupos terroristas de esquerda ativos nas décadas de 1970 e 1980 desapareceram em meados dos anos 1990. Uma exceção é a Organização Revolucionária 17 de Novembro (17N), da Grécia, que se manteve em atividade até 2002. Desde então, houve uma redução acentuada de atos de terrorismo de esquerda no mundo ocidental, em comparação com o terrorismo promovido por outros grupos - muitos dos quais identificados com a extrema-direita, por exemplo. Continuam a verificar-se atos no mundo em desenvolvimento, praticados principalmente por grupos insurgentes de diferentes colorações políticas.[25]
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↑«Red Brigades». Stanford University. Consultado em 1 de novembro de 2019. The PL [Prima Linea] sought to overthrow the capitalist state in Italy and replace it with a dictatorship of the proletariat.
↑Raufer, Xavier (dezembro de 1993). «The Red Brigades: A Farewell to Arms». Studies in Conflict and Terrorism. 16 (4). 319 páginas. Consultado em 1 de novembro de 2019
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Leitura adicional
Chiocchetti, Paolo (2016). The Radical Left Party Family in Western Europe, 1989–2015 1st ed. London: Routledge. ISBN9781138656185