Está redigida sob uma perspectiva preponderantemente brasileira e pode não representar uma visão mundial do assunto.
Estudos clássicos é a denominação dada aos estudos de caráter multidisciplinar que agregam os pesquisas relativas à antiguidade clássica grego-romana, particularmente suas línguas e literaturas (grego antigo e latim), filosofia greco-romana, história antiga e arqueologia clássica. No mundo ocidental, os estudos relativos à civilização greco-romana sempre foram considerados um pilar da humanidades e parte fundamental da educação bem estruturada. Em países anglófonos, esta grande área do conhecimento recebe o nome de Classics ou Classical Studies, em países de língua francesa Études Classiques.
A formação do classicista (latinista e helenista) no Brasil
Esta seção pode não ser de natureza enciclopédica. Observações:Guia de cursos. Ver também *(Janeiro de 2024)
No âmbito da educação universitária no Brasil, muitas instituições, principalmente as públicas, oferecem em nível de graduação cursos de grego antigo e de latim, entretanto o bacharelado e/ou a licenciatura em língua e literatura grega e língua e literatura latina é oferecido em apenas três: na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O aluno egresso desses cursos recebe a alcunha de helenista e de latinista respectivamente, sendo que se for dupla sua titulação, isto grego antigo e latim, será conhecido como classicista. Ainda no que diz respeito à formação desses profissionais, há que ser registrado que outras universidades, ainda que não ofereçam a possibilidade de uma diplomação em grego antigo e/ou latim, possuem em suas grades curriculares disciplinas optativas suficientes a fim de oferecer uma sólida formação nesta área, entre essas universidades, temos a Universidade Estadual de Campinas, a Universidade Federal do Paraná, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Ouro Preto, entre outras. No âmbito da pós-graduação, há dois programas específicos aprovados pela CAPES: O Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas[1] da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro.[2] Mesmo que não recebam o nome específico "Letras Clássicas", muitos programas de Pós-graduação em Linguística e em Estudos Literários possuem áreas de Concentração que pode dar ao pós-graduando uma sólida formação nas Letras Clássicas, convém lembrar o Programa de Pós Graduação em Linguística da UNICAMP e o de Estudos Literários da UNESP, câmpus de Araraquara/SP.
Afora, os estudos relativos à linguagem (Linguística e Literatura), os estudos clássicos dedicam-se a outras áreas importantes do conhecimento, que seguramente não podem prescindir do conhecimentos linguístico-literários, assim como esses não podem abrir mão de um contextualização histórico-arquiológica e filosófica dos textos antigos greco-latinos. Contudo, diferentemente do que ocorre em Letras e Linguística, os estudos clássicos nas demais áreas ora limitam-se a disciplinas isoladas nos cursos de graduação em História, Filosofia e Arqueologia, ora são áreas de concentração ou linhas de pesquisas nos programas de pós-graduação homônimos. Na Universidade de São Paulo, por exemplo, no curso de filosofia são oferecidas: História da Filosofia Antiga I e História da Filosofia Antiga III em que podem ser discutidos e desenvolvidos temas relativos aos pré-socráticos, a Platão, a Aristóteles, aos céticos, aos cínicos, aos estóicos, aos pitagóricos entre outros.
A história da Grécia e a história de Roma são elementos curriculares obrigatórios desde o ensino fundamental, portanto seu estudo e sua pesquisa devem ser valorizados nos níveis de graduação e de pós-graduação. Na Universidade de São Paulo, são oferecidas, por exemplo, as seguintes disciplinas na Graduação: História Antiga I, História Antiga II e Arqueologia, sem contar disciplinas que tocam parcialmente nestes conteúdos. No que diz respeito à pós-graduação não são ouças as Universidades Brasileiras que oferecem formação acadêmica no âmbito da História Antiga, haja vista a existência de um Grupo de Trabalho de História Antiga[3] específico na Associação Nacional de História - ANPUH.[4]
A Arqueologia Clássica possui certa tradição no Brasil. Na Universidade de São Paulo, a Arqueologia, sua pesquisa e ensino, está subordinada ao Museu de Arqueologia e Etnologia - MAE. Esse museu oferece mais de 20 disciplinas de graduação em diversos cursos da USP e de outras universidades. Possui também um programa de pós-graduação cuja função é a formação de pesquisadores e professores universitários da área.
Em 1999, a Universidade de São Paulo promoveu profundas modificações curriculares no curso de Letras. Entre estas, estava a criação de um Ciclo Básico no primeiro ano. Nele os ingressastes poderiam ter acesso aos conhecimentos mais elementares e importantes do curso como um todo. Nesse sentido, quatro núcleos disciplinares foram criados e são obrigatórios desde então: Introdução aos Estudos Literários, Introdução aos Estudos Clássicos (IEC I e II), Introdução à Linguística e Introdução aos Estudos de Língua Portuguesa. A presença das disciplinas IECI e II na grade curricular que possui apenas mais três outras componentes denota a importância dos estudos clássicos na formação do profissional de Letras. De maneira análoga ao que ocorre, como visto acima, nos cursos de História e Filosofia com suas disciplinas afins.
Grupos/núcleos de pesquisa e laboratórios e centros de pesquisa
Além da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos - SBEC, outras sociedades concorrem para o desenvolvimento dos estudos clássicos no Brasil. A Sociedade Brasileira de Platonistas,[5] a Sociedade Brasileira de Retórica,[6] a Associação Brasileira de Professores de Latim[7] são dois exemplos importantes. Contudo, sob a perspectiva de uma capilaridade institucional, inúmeros grupos, núcleos, centros e laboratórios de pesquisa organizam-se nas Universidades Brasileiras sob a égide dos estudos clássicos. Entre esses são dignos de citação:
Além da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos - SBEC, outras sociedades concorrem para o desenvolvimento dos Estudos Clássicos no Brasil. A Sociedade Brasileira de Platonistas,[5] a Sociedade Brasileira de Retórica,[6] a Associação Brasileira de Professores de Latim[7] são dois exemplos importantes. Contudo, sob a perspectiva de uma capilaridade institucional, inúmeros grupos, núcleos, centros e laboratórios de pesquisa organizam-se nas Universidades Brasileiras sob a égide dos Estudos Clássicos. Entre esses são dignos de citação:
A partir de manuscritos transmitidos da Antiguidade e que sobreviveram até o Renascimento, edições críticas, isto é, aquelas que cotejam mais de um ainda hoje são elaboradas e/ou traduzidas pelos classicistas para as línguas modernas, donde têm-se várias coleções importantes, entre as quais são dignas de nota:
Les Belles Lettres organizada pela Association Guillaume Budé de Paris,
BUR Classici da Biblioteca Universale Rizzoli de Milão
Biblioteca Clásica Gredos da Editorial Gredos de Madri[32]
Classica Digitalia[33] organizada pela Imprensa da Universidade de Coimbra.
Os estudos clássicos também não podem prescindir das edições que oferecem apenas o texto latino e do texto grego com aparato crítico como são os casos da Bibliotheca Teubneriana de Leipzig e da Oxford Classical Texts da Oxford University Press.
Transmissão oral e transmissão escrita
Quando estamos diante de um texto antigo, por exemplo, a Odisseia de Homero, muitas questões relativas à sua transmissão devem ser consideradas, pois que aliam-se à fidedignidade do texto que estamos lendo, isto é, se pensarmos que Homero é um autor que teria vivido entre os séculos IX e VIII a.C.,[34] época em que entre os gregos a escrita ainda não havia sido inventada — ela nasce no século VI a.C.[35] — como poderíamos atestar firmemente que fosse realmente o autor dessa obra? E mais como poderíamos ter certeza de que esta obra hoje lida era exatamente aquela que fora composta por este autor que não pôde registrá-la em um suporte/meio durável? Estas questões dizem respeito à uma questão que por muito tempo vem sendo discutida pelos classicistas: a questão homérica. Homero teria ou não existido? Se não o que são os poemas homéricos? Uma compilação? Uma composição coletiva? E Homero seria ou não uma ficção?[36] Teria poetado? Teria recolhido poemas na tradição? Seria ele apenas um cantor, um aedo? Hoje, ao que parece, poucos têm este tipo de preocupação, mais certo é que os classicistas (latinistas e helenistas) se debruçam sobre o material histórico que lhes cabe: o texto. Nesse sentido, os estudos clássicos ocupam-se da descoberta de novos textos, de sua edição e tradução, da elaboração de comentários e a exegese dessas descobertas. Mas ainda assim, diante de tudo isto, uma questão importante ainda está na base dos estudos clássicos: como os textos homéricos compostos por uma única pessoa ou várias chegaram até nós tendo em vista a agrafia grega no período de sua composição? A tradição oral é a resposta.
Periódicos científicos - brasileiros e internacionais
Brasileiros
Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos[37] - SBEC
Letras Clássicas - Revista de Estudos Clássicos do PPG em Letras Clássicas[38] - USP
Phaos - Revista de Estudos Clássicos[39] - Unicamp
↑ Vidal-Naquet, Pierre (2000). Le monde d'Homère. [S.l.]: Perrin. 19 páginas: "a Ilíada e a Odisseia datam dos últimos anos do século IX a.C., ou a partir do século VIII a.C., a Ilíada sendo anterior à Odisseia, talvez por algumas décadas"
↑Havelock, E. (1994). A Revolução da Escrita na Grécia e suas Consequências Culturais. p. 48: "Entre 1100 e 700 a.C., os gregos eram totalmente não-letrados: nesse ponto, o testemunho da epigrafia é irrefutável."
↑West, M. L. (1999). «The Invention of Homer». Classical Quarterly. 49 (364): Homero não é "o nome de um poeta histórico, mas um nome fictício ou construído"