Por volta de 1211, já estaria casada com o importante magnate português Garcia Mendes II de Sousa, dito o de Eixo, trovador, senhor de importantes bens no Entre-Douro-e-Minho e na Beira, mas sobretudo na região do rio Vouga, onde se incluía a localidade de Eixo, local no qual o seu paço estaria situado e do qual o marido terá herdado o cognome[2].
O testamento de Sancho I e o conflito sucessório
Antecedentes: o testamento e a divergência nobiliárquica
Desta forma, os primeiros anos do reinado de Afonso II foram marcados por violentos conflitos internos entre o rei e as suas irmãs Mafalda, Teresa e Santa Sancha de Portugal, a quem Sancho legara em testamento, sob o título de rainhas, a posse dos castelos de Montemor-o-Velho, Seia e Alenquer, com as respectivas vilas, termos, alcaidarias e rendimentos. Ora, Afonso, tentando evitar a supremacia da influência dos nobres no seu governo, pretendia centralizar o seu poder, mas para isso incorria contra as irmãs e em último caso contra o testamento paterno, do qual o Sousão ficara encarregue de defender. Este, como executor testamentário, e talvez por ter sido um grande companheiro do rei, foi o que mais agiu em defesa das últimas vontades de Sancho, empenhando-se em fazê-las cumprir e jurá-las solenemente[3]. Assim é perfeitamente compreensível que os Sousas tivesse defendido a posição das infantas, inaugurando um período no qual os Sousas, firmes apoiantes da realeza portuguesa, se lhe opunham pela primeira vez.
Alguns dos cinco grandes nobres citados juntaram-se a ele na defesa da posição das três rainhas de Portugal: Teresa, Sancha e Mafalda. Mas alguns permaneceram do lado do rei: sabe-se que Lourenço Soares de Ribadouro se terá mantido do lado do novo rei, sendo esta posição também compreensível dado o estreito vínculo que unia a Casa de Ribadouro à Casa Real: Afonso I de Portugal fora pupilo de Egas Moniz, o Aio; e mais tarde várias damas daquela família haviam educado infantes (como o caso de Urraca Viegas de Ribadouro, tia de Lourenço, que educara a Rainha Mafalda).
O conflito
A posição dos Sousas teve consequências imediatasː aquele foi retirado do cargo de mordomo, e a sua hegemonia na corte viu também um fim, sendo afastado. Na mordomia é substituído por Martim Fernandes, um dos executores testamenteiros que, como se pode depreender, terá ficado do lado do rei, como Lourenço Soares. Despeitado, e talvez até então receoso de se opor ao rei, Gonçalo encontrou neste ato a justificação para se assumir abertamente como dedicado defensor dos direitos das infantas irmãs do rei, e como acérrimo inimigo da política centralizadora de Afonso II[4].
Este conflito seria resolvido com intervenção do Papa Inocêncio III; o rei indemnizaria as infantas com uma soma considerável de dinheiro, e a guarnição dos castelos foi confiada a cavaleiros templários, mas era o rei que exercia as funções soberanas sobre as terras e não as infantas. Porém os Sousas seriam renegados durante todo o reinado, e assim sendo saíram de Portugal, refugiando-se em outras cortes peninsulares.[5]
É possível que Elvira e o marido se tenha reunido com Gonçalo Mendes em Leão ou tenham mesmo seguido para Aragão, acompanhando o infante Pedro Sanches, irmão do rei. Uma outra possibilidade é que Elvira tenha abrigado o marido nos domínios da sua família, em Toronho[6][7].
O florescer da corte sousã
Esta cantiga foi feita a Roi d'Espanha, [c]a mi faliu con'[o] condado.
"Alá u nazq la Torona,
e los pavéns son [au]tan[s]
e la terra é tro bona!
E já quites son los mans!
C'ora me volho tornar
a Sousa, a lo mon logar,
que me adosa e me saudona.
La auga, que ten, me sona
que corre i, u é Natal,
e la folha assi verdona
que nul temp non lhi faz mal;
(?) (ar)
tod'om se deu a pagar
de l'odor que de si dona
[L]a chontene é tro bona
que nulh'om non lhi acha par;
que malos son d'asembrar
los faisons en la Tor[o]na
a quen non porta culhar."
Garcia Mendiz d'Eixo
Regresso
A morte prematura de Afonso II em 1223 permitiu o regresso dos Sousas, aproveitando a menoridade de Sancho II de Portugal para readquirirem influência[8]. No entanto, Garcia e Elvira haviam regressado mais cedo, pois o marido da galega já surgia na documentação curial desde 1217, testemunhando o acordo entre Afonso e as irmãs[2][6], mas evita os conflitos nobiliárquicos que marcaram o período de menoridade de Sancho II, saindo definitivamente da corte em 1224.
Há, por volta de 1230[7], notícias de uma doação do casal ao Mosteiro de Santa Maria de Salzedas. Com a morte de Afonso II, volta a afastar-se da corte, evitando os conflitos nobiliárquicos que marcaram o período de menoridade de Sancho II. Morre a 27 de fevereiro de 1239, sendo sepultado no panteão dos Sousa, no Mosteiro de Alcobaça, onde se juntaria a sua viúva, alguns anos depois.
O ambiente geralmente régio em que se centrava esta atividade deparava-se em Portugal com um ambiente mais senhorial, que era o que de facto recebia e fazia florescer o trovadorismo, na língua vernácula (galego-português), em oposição à preferência da cúria régia pelo latim tradicional que continuava a manifestar-se em documentos desta proveniência[9].
Últimos anos
Elvira enviúva de Garcia a 27 de fevereiro de 1239[10]. Conhece-se uma doação, feita por Elvira e os filhos logo após a morte de Garcia Mendes, na qual os mesmos doam à Sé do Porto os direitos que detinham na igreja de Santa Cruz de Riba de Leça[10]. A própria Elvira Gonçalves falece a 16 de janeiro de 1245, e faz-se sepultar junto do marido, na abadia de Alcobaça[10]
O seu sobrinho, Mem Gonçalves, filho de Gonçalo Mendes, falecera antes do pai, pelo que, a partir de 1231, passaram a ser os filhos de Elvira os principais herdeiros do chefe da família. De facto, o sucessor de Gonçalo Mendes II será Mem Garcia de Sousa, filho primogénito de Garcia e Elvira
Calderón Medina, Inés (2004). «La nobleza portuguesa al servicio del rey de León 1157-1187. Pero Pais de Maia y Vasco Fernandes de Soverosa». Actas IV Simposio Internacional de Jóvenes Medievalistas, Lorca 2008(PDF) (em espanhol). [S.l.]: Universidad de Murcia, Sociedad Española de Estudios Medievales, Ayuntamiento de Lorca, et al. pp. 39–50. ISBN978-84-8371-801-8
Mattoso, José (1981). A nobreza medieval portuguesa: a família e o poder. Lisboa: Editorial Estampa. OCLC8242615
Oliveira, António Resende de (2001). O trovador galego-português e o seu mundo. I. Lisboa: Editorial Notícias. ISBN972-46-1286-4
Oliveira, António Resende de (1992). Depois do Espetáculo Trovadoresco - A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos sécs. XIII e XIV. Porto: [s.n.]