O primeiro turno, realizado em 22 de abril, terminou virtualmente empatado entre Nicolas Sarkozy e François Hollande, pois nenhum dos dois obteve os votos necessários para ser eleito. O segundo turno foi realizado em 6 de maio, e no mesmo dia a apuração das urnas apontou Hollande como novo presidente da França, eleito com 51,63% dos votos.[2]
Processo eleitoral
O presidente da República Francesa é eleito para um mandato de cinco anos por um escrutínio majoritário (50%+1) com dois turnos, ou seja, uma primeira votação com todos os candidatos representados por seus respectivos partidos, e se nenhum dos candidatos obtiver a maioria dos votos, duas semanas após o primeiro escrutínio, ocorre uma nova votação com os dois candidatos mais votados. De acordo com a reforma constitucional de 23 de julho de 2008, que limita o período na Presidência até dois mandatos consecutivos, Nicolas Sarkozy, Presidente da República Francesa desde 2007, é elegível para concorrer a um segundo mandato de cinco anos. O candidato eleito tomará posse em 17 de maio.[3]
O voto na França não é obrigatório, sendo que para ter este direito é preciso ter nacionalidade francesa, idade mínima de 18 anos e estar inscrito nas listas eleitorais, que somam atualmente 44 milhões de pessoas. Os políticos que quiserem se candidatar para a eleição presidencial francesa devem ter no mínimo 18 anos (até 2011, a idade mínima era de 23 anos) e precisam recolher 500 assinaturas de prefeitos eleitos.[3]
Apresentação de assinaturas
Os candidatos declarados à eleição presidencial tiveram até sexta-feira, 16 de março de 2012 para apresentar suas 500 parrainages (assinaturas de apoio de prefeitos franceses para o conselho constitucional).[4]
Depois de verificar a conformidade destas assinaturas por parte do Conselho, a lista de candidatos oficiais da eleição presidencial foi publicado no Jornal Oficial da terça-feira20 de março de 2012, em uma ordem estabelecida por sorteio para ser respeitado durante toda a campanha oficial.[5]
A campanha oficial começou na terça-feira, 20 de março. No entanto, o início da campanha oficial foi interrompida por uma série de assassinatos em Toulouse e Montauban, e os candidatos declararam a suspensão da campanha, com exceção de François Bayrou e Jean-Luc Mélenchon.[14][15] De acordo com Jean-Luc Mélenchon, a continuação da campanha é "um ato de resistência moral, intelectual e afetiva".[16]
Nos trinta dias que antecedem o primeiro turno, todos os candidatos possuem o mesmo espaço conforme a lei. Assim, a mídia até então controlada pelos dois grandes partidos (PS e UMP) deve ser equilibrado com os pequenos. Os programas políticos e de generalidades, nas rádios e TVs, são obrigados a contar o tempo de intervenção de cada concorrente. O Conselho Superior Audiovisual define as regras para garantir a pluralidade da expressão política, determinando o tempo das intervenções, as análises e reportagens políticas. A imprensa escrita não está submetida a este tipo de regulamentação. Os candidatos são livres para criar acessos à comunicação virtual. Entretanto, na véspera das eleições todos os sites montados por eles são fechados.[17]
Os meios de comunicação se empenharam no destino do presidente Nicolas Sarkozy, que chegou a dizer que se perdesse a eleição, deixaria a política.[18][19]
Eva Joly, de 68 anos, é a primeira candidata estrangeira a Presidência na história da França. Ela é franco-norueguesa, e se naturalizou como francesa depois de se casar com um francês. Vive na Fraça desde os 18 anos de idade. Tornou-se juíza aos 37 anos, sendo que ficou famosa na década de 1990 após denunciar crimes do colarinho branco. Venceu as primárias do partido Europa Ecologia-Os Verdes, que teve os seguintes resultados:
Em sua campanha eleitoral com o slogan "A ecologia, a verdadeira mudança"[20] pela coligação Europa Ecologia-Os Verdes, ela defende uma ecologia de combate e pragmática. Exerce a função de deputada do Parlamento Europeu. Defende a moralização da vida política e propõe o abandono progressivo da energia nuclear em benefício das energias renováveis.[3][21]
Marine Le Pen
Marine Le Pen, de 43 anos, é advogada, considerada pela metade da população como sendo uma candidata de extrema-direitanacionalista e xenófoba e pela outra metade como uma patriota de direita que defende os valores tradicionais. Seu pai, Jean-Marie Le Pen, criou em 1972 o partido Frente Nacional, pelo qual ela é candidata. Exerce a função de deputada do Parlamento Europeu. Defende o abandono do euro e da União Europeia, e a expulsão dos imigrantes. Realizou uma campanha dirigida aos setores populares, acrescentando medidas sociais de proteção dos salários.[3][21] A candidata teve maior apoio dos homens entre 35 e 49 anos, os mais afetados pela crise. A França, país berço do feminismo, mostra que ela não possui apoio das eleitoras do sexo feminino.[22]
Nicolas Sarkozy
Nicolas Sarkozy, de 57 anos, era o presidente da França que buscava a reeleição. Eleito em 2007, defendeu seu lema "trabalhar mais para ganhar mais". Seu primeiro mandato foi marcado por crises econômicas, tanto mundialmente quanto na zona do Euro. Durante este período, a França registrou os piores índices de desemprego, 9,3%.[3][21] O presidente criticou a imigração ilegal, e afirmou que para não enfraquecer o país, poderia tirá-lo do acordo de Schengen, que permite a abertura das fronteiras e a livre circulação de pessoas entre os países signatários.[23] Durante a campanha, Sarkozy declarou que se o socialista François Hollande chegasse ao poder, a França passaria pela mesma crise que atinge a Espanha e a Grécia, culpando os governos socialistas desses locais, e tal atitude irritou o Partido Socialista Operário Espanhol.[24]
Jean-Luc Mélenchon
Jean-Luc Mélenchon, de 60 anos, é candidato de esquerda nascido no Marrocos e mudou-se para a França com os pais aos 11 anos. Ex-membro do Partido Socialista, ajudou a fundar o partido Frente de Esquerda em 2008. É contra o liberalismo e defende uma Europa na contramão da economia de mercado. Exerce a função de deputado do Parlamento Europeu.[3][21] Em várias ocasiões, o instituto TNS-Sofres considerou a campanha de Jean-Luc Mélenchon como a que teve "melhor dinâmica" por lotar espaços e locais públicos.[25] Durante a campanha, apesar de não estar entre os dois candidatos mais votados, Mélenchon apresentou uma grande ascensão política, fazendo os maiores comícios com cerca de 100 mil pessoas.[17][26]
A Frente de Esquerda inclui comunistas, sociais-democratas radicais, ecologistas e trotskistas, uma coligação baseada nas tradições das lutas operárias, sindicais e de movimentos sociais. Jean-Luc Mélenchon cresceu quando iniciou uma luta contra a extrema-direita, recuperando votos de operários perdidos para o discurso xenófobo. Propõe a criação de um salário máximo, a nacionalização do sistema de energia, o aumento do salário mínimo para 17 mil euros.[27]
Philippe Poutou
Phlippe Poutou, de 45 anos, é um operário de uma fábrica de automóveis. Candidato pelo partido Novo Partido Anticapitalista, defende o combate ao capitalismo e o liberalismo. Ele acredita na "democracia direta", afirma que, se for eleito, realizará uma "autodissolução, suprimindo a presidência da República", porque é "anormal" que "apenas uma pessoa tenha tanto poder".[21]
Nathalie Arthaud
Nathalie Arthaud, de 42 anos, é uma professora. Candidata de esquerda pelo partido Luta Operária. Diz não se importar com o resultado, devido que "os momentos eleitorais não são essenciais, o que é fundamental é que o povo saia às ruas".[21] Nathalie Arthaud apresentou um plano para abolir a economia de livre mercado e elogiou a ditadura do proletariado.[19]
Jacques Cheminade
Jacques Cheminade, de 71 anos, é candidato do partido Solidariedade e Progresso. Considera-se "gaulista de esquerda" e "adversário do mundo das finanças". Foi candidato a presidente em 1995, quando obteve 0,28% dos votos.[21] Jacques Cheminade prometeu colonizar o planeta Marte caso fosse eleito. Além dessa anedota, também comparou o presidente dos Estados Unidos Barack Obama com o ditador nazistaalemãoAdolf Hitler.[19]
François Bayrou cumprimenta eleitores e faz discurso em 15 de abril de 2012 em Marseille.
François Bayrou
François Bayrou, de 60 anos, é candidato centrista. Disputou a Presidência em 2002 obtendo 6,84% dos votos e em 2007, obtendo 18,57% dos votos. Exerce a função de deputado do departamento Pyrénées-Atlantiques, fundou o partido Movimento Democrata. Evita se mostrar como candidato de direita ou de esquerda, por isso é acusado muitas vezes de "ficar em cima do muro" querendo agradar a todos.[3][21]
François Hollande, de 57 anos, é candidato pelo Partido Socialista. Promete uma reforma fiscal para introduzir mais igualdade e defende a retomada do crescimento na Europa. A direita o ataca por sua falta de experiência governamental e alguns criticam suas indecisões. Nunca exerceu um cargo ministerial, sendo deputado de Corrèze e presidente do conselho geral desse departamento. É considerado um político sem carisma, mas vem convencendo o eleitorado. O candidato foi escolhido nas primárias do partido, que pela primeira vez foram abertas. Os resultados da primária socialista foram:
Em maio de 2011, Dominique Strauss-Kahn, o então candidato preferido dos socialistas, envolveu-se em escândalos sexuais, o que provocou uma reviravolta no Partido Socialista e fez com que François Hollande fosse escolhido como candidato presidencial pelo Partido Socialista.[3][21][28] Hollande criticou o sistema financeiro, de forma a apagar a imagem de homem indeciso que havia sido criada pela oposição. Prometeu aprovar uma reforma fiscal e financeira e aumentar os impostos "aos que mais ganham, aos bancos e às grandes empresas".[29] O PS diz rejeitar um novo tratado europeu proposto por Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel, privilegiando o crescimento do emprego e reorientando a função do Banco Central Europeu. Promete criar 60 mil empregos no setor da Educação, a criação de um banco público para o financiamento das pequenas e médias empresas, a construção de 2,5 milhões de novos imóveis. Demonstrou a intenção de reduzir a dependência à energia nuclear e investir em energias renováveis. O PS apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo, incluindo o direito à adoção; a legalização da eutanásia; e o direito de voto em eleições locais para os estrangeiros legais que vivam na França há pelo menos cinco anos.[30]