Nascido em Belo Horizonte (Minas Gerais) em 23 de fevereiro de 1947, Eduardo Antônio da Fonseca, filho de Joaquim Fonseca Júnior e Lucinda Miquelina Braga [Dossiê], era estudante secundarista quando resolveu aderir ao movimento estudantil.[1]
Em 1968, aos 21 anos, Eduardo entrou para o Partido Socialista Revolucionário Brasileiro (PSRB), onde permaneceu até a dissolução do grupo, em 1969. Nesse mesmo ano, decidiu se filiar à Corrente de Minas Gerais, outro movimento político da época. Ao final de 1969, com a prisão de vários militantes da Corrente, Eduardo aderiu à ALN, pela qual participou de várias ações armadas na cidade de São Paulo.[3]
Morte
O guerrilheiro da ALN foi assassinado durante uma ação dos órgãos de segurança do regime militar que ficou conhecida como Emboscada da Rua João Moura.[3] Além de Eduardo, outros três militantes caíram na armadilha: Antonio Sérgio Matos, dirigente regional da ALN acusado de participação no assassinato do então presidente da Ultragaz, Albert Henning Boilesen, um dos financiadores da Operação Bandeirante; Manuel José Nunes Mendes de Abreu e Ana Maria Nacinovic Corrêa, única mulher participante do grupo, que conseguiu escapar da emboscada, mas foi assassinada um ano depois.[3]
Em 23 de setembro de 1971, agentes do DOI/CODI-SP posicionaram, à altura do número 2.358 da rua João Moura, um jipe do II Exército de maneira que parecesse parado em virtude de algum problema mecânico. O intuito era atrair os guerrilheiros que passariam no local para, então, efetuar o ataque.[3]
Ao avistar o jipe, o grupo da ALN se aproximou para roubar armas e foi surpreendido por agentes armados que estavam escondidos em um caminhão baú, que, segundo a ex-membro da ALN Susana Lisboa, em depoimento à Comissão da Verdade “Rubens Paiva”, pertencia ao jornal Folha de S.Paulo.[4] Pela versão oficial, Eduardo e os companheiros foram mortos no local. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que Eduardo levou dois tiros na região glútea e outros dois nas pernas.[2]
Algumas circunstâncias da emboscada e da morte de Eduardo e de seus companheiros permanecem sem esclarecimento. A análise dos processos pela Comissão Especial sobre Mortos e Desparecidos Políticos[2] mostrou que documentos assinados pelo delegado do DOPS Alcides Cintra Bueno Filho e laudos necroscópicos atestados pelos legistas Isaac Abramovitc e Antonio Valentini apresentam inconsistências, como os horários em que foram encontrados os corpos e a chegada deles ao IML. Pelos registros, o corpo de Eduardo teria sido encontrado uma hora antes dos outros.[2][4] Além disso, os cadáveres deram entrada no IML às 18h40, quase três horas depois que supostamente foram encontrados, sendo que o local da emboscada era muito próximo do instituto.[2][4]
A Comissão Especial também constatou, ainda, que os ferimentos à bala na taqueia e pescoço de Antônio Sérgio não foram causados por uma arma de fogo,[5] o que sugere a possibilidade do guerrilheiro e seus companheiros não terem morrido no local do ataque, mas sim de serem conduzidos pelas autoridades envolvidas no caso a outro local antes da morte.[2] No caso de Eduardo, o laudo apresenta apenas dois tiros na região das pernas e dois na região dos glúteos, locais estratégicos para a imobilização do guerrilheiro, mas não para sua morte.[5] A comissão não descarta a possibilidade do tiroteio entre militantes e agentes, porém, há indícios de que os agentes mantiveram em sua posse aqueles que ainda estavam vivos no momento da ação até que pudessem confirmar o óbito de cada um. Por isso a diferença de horário entre entre relatórios.[5]
Segundo companheiros de Manuel, o guerrilheiro possivelmente foi conduzido para o DOI-CODI de São Paulo, onde teria sofrido atos de violência como espancamento e choques e morto após a aplicação da chamada "coroa de Cristo", que se tratava de uma peça de metal com parafusos que pressionava a cabeça conta os parafusos, causando o esmagamento do crânio.[6] Segundo a irmã de Manuel, Maria Fernanda Mendes de Abreu, os próprios policiais do DOI-CODI/SP levaram o corpo de seu irmão para a sede do IML, onde exigiam total sigilo, e invadiam a casa de Manuel para pegar livros, documentos e outros pertences.[5]
↑ abComissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Instituto de Estudo da Violência do Estado - IEVE e Grupo Tortura Nunca Mais (1995). Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964. Recife: Companhia Editora de Pernambuco. p. 107-108
↑ abcdeComissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos e Comitê brasileiro pela Anistia (CBA/RS) (2009). DOSSIÊ DITADURA: MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS NO BRASIL (1964-1985). São Paulo: Imprensa Oficial. p. 281-284