Nascida a 17 de dezembro de 1829, na antiga freguesia da Sé, em Viseu, Doroteia de Almeida Furtado era filha do famoso pintor e miniaturista José de Almeida Furtado (1778-1831), conhecido como “o Gata”, natural de Viseu, e de Maria de Loreto Bentura Amezqueta (1783-?), ou Mesquita em alguns registos, natural de Salamanca, Espanha. Era a mais nova dos oito filhos do casal, tendo quatro nascido em Salamanca e os outros quatro em Viseu. Era conseguinte irmã de Tadeu de Almeida Furtado (1812-1901), Maria das Dores de Almeida Furtado (1814-1842), Eugénia de Almeida Furtado (1816-?), Rosa de Almeida Furtado (1817-?), José de Almeida Furtado, Francisco de Almeida Furtado (1825-?) e Francisca de Almeida Furtado (1826-1918). Todos os seus irmãos e irmãs foram artistas, à excepção de Francisco de Almeida Furtado. Baptizada como Dorotheia de Almeida Furtado pelo cura da Sé de Viseu, Fillipe Ferreira de Abreu, teve como padrinhos Joaquim de Almeida Campos e a sua tia Joanna Augusta.[3]
Após ter ficado órfã de pai e a sua mãe viúva com oito filhos para criar em 1831, entre as idades compreendidas dos dois aos dezanove anos, sofrendo algumas dificuldades económicas, poucos anos depois, em 1834, a família Almeida Furtado decidiu partir em busca de uma nova vida e novas oportunidades de trabalho para a cidade do Porto, onde se fixou.[4]
Apesar de ter crescido sem a figura do patriarca da família, no seu ambiente familiar todos partilhavam as memórias e o talento artístico do seu pai, acabando Doroteia de Almeida Furtado por desenvolver também, e desde muito cedo, o seu gosto pela arte de pintar.
Inseparável da sua irmã Francisca de Almeida Furtado e seguindo-lhe os mesmo passos, em 1837, a jovem artista que contava apenas com oito anos de idade, tornou-se discípula do seu irmão Tadeu de Almeida Furtado, que começava a dar aulas particulares em casa de desenho e pintura, assim como na Academia Portuense de Belas Artes, tornando-se também professor e mestre das aristocratas Carolina Almeida Coutinho e Lemos e Maria Adelaide Murat, entre muitas outras, ou ainda mentor do pintor José de Almeida e Silva.[5]
Anos depois, a família Almeida Furtado começou a participar em várias exposições e mostras de arte, destacando-se sobretudo como miniaturistas e retratistas nas exposições trienais da Academia Portuense de Belas Artes, onde Francisca e Doroteia de Almeida Furtado foram eleitas académicas de mérito no ano de 1852.[6][7] Durante a exposição desse ano, Doroteia de Almeida Furtado apresentou uma das suas obras mais conhecidas, um retrato miniatura, realizado em têmpera sobre marfim, do seu irmão Tadeu.[8] Devido a essa condecoração, as duas irmãs receberam o privilégio raro, para as mulheres na sociedade de então, de poder participar nas reuniões das Conferências Gerais da dita academia de belas artes.[9][10]
Nos anos que se seguiram, apesar dos preconceitos enraizados quanto à condição e papel social da mulher na sociedade portuguesa, mesmo no mundo das artes e nas profissões liberais, a pintora natural de Viseu continuou a realizar obras, muitas por encomenda para diversas figuras da sociedade portuense, obtendo o estatuto de artista profissional.[11] Devido ao seu sucesso, as suas exposições foram noticiadas em vários periódicos para além do seu trabalho elogiado num poema de António Pinheiro Caldas.[12]
Desconhece-se quando faleceu ou se gerou descendência.
Legado e Homenagens
Postumamente, em 1998, após a exposição no Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu, sobre a vida e obra do pintor José de Almeida Furtado, as obras de Doroteia de Almeida Furtado e dos seus irmãos e irmãs foram desveladas, sendo-lhes conferidas notoriedade após um século de esquecimento. Sendo redobrados os esforços para se preservar a história de uma das famílias artísticas mais prolíferas do seu período, nos últimos anos têm se desenvolvido vários estudos sobre como o seu trabalho foi à época uma referência nacional no domínio da pintura em miniatura.[13]
As suas obras encontram-se na sua grande maioria em colecção privadas e em leilões de arte e antiguidades, com excepção, no entanto, para algumas peças expostas em permanência no Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu, e em exposições temporárias, como a de 1950, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.[14]