Diogo de Almeida foi um comerciante e exploradorportuguês dos séculos XVI e XVII do qual apenas se sabe que foi o primeiro europeu que visitou terras tibetanas, mais concretamente o Ladaque, a região dos Himalaias que atualmente constitui a parte mais setentrional (noroeste) da Índia.
Visitou o Ladaque no final da década de 1590,[1] 1600[2] ou 1601[3] e viveu dois anos em Basgo, a capital de um dos dois reinos da região,[1][3][4] onde então reinava Jamiang Namgyal (´Jam-dbyans rnam-rgyal), a quem ele chama Tammiguia.[3][5] Quando regressou a Goa, em 1603, relatou que tinha lá encontrado uma comunidade cristã.[2]
O então arcebispo de GoaAleixo de Meneses descreve no seu livro “Jornada do Arcebispo de Goa”, publicado em 1606 em Coimbra,[6] o relato que Diogo de Almeida lhe fez das suas viagens,[3] feito numa audiência que teve lugar em 1603.[7] O comerciante contou que os tibetanos tinham muitas igrejas ricamente decoradas, com pinturas nos altares e imagens de Jesus, Nossa Senhora e os Apóstolos. Tinham muitos padres, que eram celibatários, vestiam-se como os padres ocidentais e a única diferença era que rapavam a cabeça. Tinham um bispo a que chamavam "lamão".[7] Esta é provavelmente a menção mais antiga à designação "lama" no Ocidente.[8]
O mercador tinha obviamente julgado que o budismo tibetano praticado além dos Himalaias era uma forma de cristianismo,[9] de resto uma confusão comum nos portugueses do século XVI que escreveram sobre a região e o Tebat (Tibete). Um desses relatos é do jesuíta Jerónimo Xavier, sobrinho de São Francisco Xavier, que viveu no Império Mogol durante o reinado de Akbar, que escreveu que um mercador muçulmano da Ásia Central lhe contou em 1597 que a nordeste de Agra e Lahore existia uma vasta região cristã chamada Xatai (semelhante a Catai, um dos nomes dado à China). Três séculos e meio antes, o monge franciscano e viajante flamengoGuilherme de Rubruck tinha feito a mesma confusão.[7][10]
Alguns historiadores são muito céticos em relação à extensão da estadia de Diogo de Almeida no Ladaque, pois os relatos das semelhanças dos templos e monges budistas com os cristãos coincidem com os das descrições dos mercadores muçulmanos e, ao contrário destes, que não estavam familiarizados com as igrejas e religiosos cristãos, seria mais improvável um cristão tomar os budistas por cristãos.[11]
Calloc'h, Bernard Le (1991), «Francisco De Azevedo's Travels in Guge and Ladakh», Library of Tibetan Works and Archives, The Tibet Journal, ISSN0970-5368 (em inglês), 16 (Shakabpa Memorial Issue: Part III (Verão de 1991)): 55-66, consultado em 5 de novembro de 2016