Darwinismo é um conjunto de movimentos e conceitos relacionados às ideias de transmutação de espécies, seleção natural ou da evolução, incluindo algumas ideias sem conexão com o trabalho de Charles Darwin.[1] A característica que mais distingue o darwinismo de todas as outras teorias é que a evolução é vista como uma função da mudança populacional e não da mudança do indivíduo.[2]
O termo foi cunhado por Thomas Henry Huxley em abril de 1860,[3] e foi usado para descrever conceitos evolutivos, incluindo conceitos anteriores, como malthusianismo e spencerismo apesar desse pensamento ter sido criticado pelo próprio Darwin e por cientistas independentes.[4][5] No final do século XIX passou a significar o conceito de que a seleção natural era o único mecanismo de evolução, em contraste com o lamarckismo e o criacionismo. Por volta de 1900 o darwinismo foi eclipsado pelo mendelismo até a síntese evolutiva moderna unificar as ideias de Darwin e Gregor Mendel.[6] A medida que a teoria da evolução moderna se desenvolve, o termo tem sido associado às vezes com ideias específicas.
Embora o termo tenha permanecido em uso entre os autores científicos, tem sido cada vez mais discutido que é um termo inapropriado para a moderna teoria da evolução.[6] Por exemplo, Darwin não estava familiarizado com o trabalho de Gregor Mendel,[7] e como resultado teve apenas uma compreensão vaga e imprecisa de hereditariedade. Ele, naturalmente, não tinha noção dos desenvolvimentos mais recentes e, como o próprio Mendel, não sabia nada de deriva genética,[8] por exemplo.
Concepções do darwinismo
Embora o termo darwinismo tenha sido usado anteriormente para se referir ao trabalho de Erasmus Darwin no final do século XVIII, o termo como é entendido hoje foi lançado á época do lançamento do livro de Charles Darwin de 1859 a Origem das Espécies[9] e foi revisado por Thomas Henry Huxley no exemplar de abril de 1860 da revista Westminster Review.[10] Depois de ter saudado o livro como "um verdadeiro rifle Whitworth no arsenal do liberalismo" promovendo o naturalismo científico sobre a teologia, e louvando a utilidade das ideias de Darwin enquanto expressava reservas profissionais quanto ao gradualismo de Darwin e duvidando que ele pudesse provar que a seleção natural podia formar novas espécies, Huxley comparou a realização de Darwin com a de Copérnico para explicar o movimento planetário:
E se a órbita do darwinismo deva ser um pouco circular? E se as espécies devem oferecer fenômenos residuais, aqui e ali, e não explicáveis pela seleção natural? Vinte anos depois naturalistas poderão estar em posição de dizer se este é ou não, o caso; mas em qualquer evento eles terão com o autor de "A Origem das Espécies", uma imensa dívida de gratidão...... E visto como um todo, não acreditamos que, desde a publicação do "Pesquisas sobre o Desenvolvimento" de Von Baer, trinta anos atrás, qualquer trabalho apareceu calculado para exercer tão grande influência, não só sobre o futuro da Biologia, mas em estender o domínio da ciência sobre as regiões de pensamento em que ela tem, por enquanto, dificilmente penetrado.[3]
Outro importante teórico evolucionista do mesmo período foi Peter Kropotkin que, em seu livroMutualismo: Um Fator de Evolução, defendia uma concepção de darwinismo contrária ao de Huxley. Sua concepção era centrada em torno do que ele viu como o uso generalizado de cooperação como mecanismo de sobrevivência nas sociedades humanas e animais. Ele usou argumentos biológicos e sociológicos em uma tentativa de mostrar que o principal fator para facilitar a evolução é a cooperação entre indivíduos em sociedades e grupos associados livremente. Isso foi com o fim de neutralizar a concepção de uma concorrência feroz como o núcleo da evolução, que fornecia uma racionalização para as teorias dominantes políticas, econômicas e sociais da época; e as interpretações prevalentes do Darwinismo, tais como as de Huxley, que é apontado como um adversário por Kropotkin. A concepção de Kropotkin do darwinismo poderia ser resumida pela seguinte citação:
No mundo animal, vimos que a grande maioria das espécies vivem em sociedades, e que elas encontram na associação as melhores armas para a luta pela vida: entendido, é claro, no seu sentido darwiniano mais amplo– não como uma luta para os meios absolutos de existência, mas como uma luta contra todas as condições naturais desfavoráveis para as espécies. As espécies animais, em que a luta individual foi reduzida aos seus estreitos limites, e a prática de ajuda mútua alcançou o maior desenvolvimento, são, invariavelmente, as mais numerosas, as mais prósperas e mais abertas a novos progressos. A protecção mútuo que é obtida neste caso, a possibilidade de alcançar a velhice e a acumulação de experiência, o maior desenvolvimento intelectual, e o crescimento adicional dos hábitos sociáveis, asseguram a manutenção das espécies, a sua extensão, e a sua evolução ulterior progressiva. As espécies não sociáveis, ao contrário, estão condenados a desaparecer.
– Peter Kropotkin, Mutualismo: Um Fator de Evolução (1902), Conclusão.
O uso no século XIX
O "darwinismo" logo veio a representar toda uma gama de filosofias evolucionistas (e muitas vezes revolucionárias) sobre a biologia e a sociedade. Uma das abordagens mais proeminentes, resume-se na frase de 1864 "sobrevivência do mais apto" pelo filósofo Herbert Spencer, mais tarde se tornou emblemática do darwinismo, embora o entendimento próprio de Spencer da evolução (como expresso em 1857) era mais parecido com o de Jean-Baptiste de Lamarck do que com o de Darwin, e antecedeu a publicação da teoria de Darwin em 1859. O que agora é chamado de "darwinismo social" era, na época, sinônimo de "Darwinismo" — a aplicação de princípios darwinianos de "luta" para a sociedade, geralmente em suporte à agenda política antifilantrópica. Outra interpretação, que contava nomeadamente com o favor do meio primo de Darwin Francis Galton, era que "Darwinismo" implica que pelo fato de que a seleção natural aparentemente não mais funcionava com as pessoas "civilizadas", era possível para cepas de pessoas "inferiores" (que normalmente seriam filtradas fora do pool genético) prevalececem sobre as cepas "superiores", e medidas correctivas voluntários seriam desejáveis - o fundamento da eugenia.
Nos dias de Darwin, não havia uma definição rígida do termo "darwinismo", e este era usado pelos oponentes e proponentes da teoria biológica de Darwin tanto para significar o que eles queriam em um amplo contexto. As ideias tiveram influência internacional, e Ernst Haeckel desenvolveu o que ficou conhecido como Darwinismus na Alemanha, embora, como a "evolução" de Spencer, o "darwinismo" de Haeckel tinha apenas uma semelhança grosseira com a teoria de Charles Darwin, e não era centrado sobre a seleção natural de forma nenhuma. Em 1886, Alfred Russel Wallace foi a uma turnê de palestras nos Estados Unidos, começando em Nova York e passando por Boston, Washington, Kansas, Iowa e Nebraska para a Califórnia, palestrando sobre o que ele chamou de "darwinismo", sem quaisquer problemas.[11]
Após a síntese moderna
O darwinismo é usado dentro da comunidade científica para o distinguir das modernas teorias evolucionistas, algumas vezes chamadas de "neodarwinismo", daquele inicialmente proposto por Darwin. O Darwinismo também é usado pelos historiadores para diferenciar a sua teoria a partir de outras teorias evolucionistas correntes do mesmo período. Por exemplo, o darwinismo pode ser usado para se referir ao mecanismo proposto por Darwin da seleção natural, em comparação com mecanismos mais recentes, como a deriva genética e o fluxo gênico. Também pode se referir especificamente ao papel de Charles Darwin ao contrário de outros na história do pensamento evolutivo - particularmente resultados contrastantes de Darwin com as teorias anteriores, como o lamarckismo ou os posteriores, como a síntese moderna.
Algoritmos genéticos
O darwinismo é utilizado por biólogos, filósofos, matemáticos e cientistas para descrever processos evolucionários semelhantes à evolução da vida, como o desenvolvimento de software com algoritmos genéticos.[12]
Neste contexto mais abstracto, o darwinismo é independente dos detalhes da evolução biológica. Um processo darwinista requer as condições seguintes:[13]
Reprodução: os agentes devem ser capazes de produzir cópias de si próprios e essas cópias devem ter igualmente a capacidade de se reproduzirem;
Hereditariedade: As cópias devem herdar as características dos originais;
Variação: Ocasionalmente, as cópias têm que ser imperfeitas (diversidade no interior da população);
Recombinação: Troca de informações genéticas entre pares de cromossomos;
Seleção Natural: Os indivíduos são selecionados pelo ambiente. A seleção natural destrói, e não cria. O problema da existência de um objetivo não surge da eliminação dos inaptos, e sim da origem dos aptos.
Em qualquer sistema onde ocorram essas características deverá ocorrer evolução.
Alguns autores, adicionalmente, propõe a elaboração de modelos matemáticos de seleção sexual.[14]
↑Steele, Edward J.; Lindley, Robyn A.; Blanden, Robert V. (1998). Lamarck´s Signature. How Retrogenes are Changing Darwin´s Natural Selection Paradigm (em inglês). Reading, Massachusetts: Helix Books. p. xviii-xx. 286 páginas. ISBN0-7382-0014-X !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Ruse, Michael (1982). Darwinism Defended. A Guide to the Evolution Controversies (em inglês). Reading, Massachusetts: Addison-Wesley Publishing Company. p. 76. 356 páginas. ISBN0-201-06273-9
↑Morse Peckham, “Darwinism and Darwinisticism” in The Triumph of Romanticism (1970) pp. 176-201.
↑Takis Fotopoulos, Towards An Inclusive Democracy, (London/NY: Cassell /Continuum, 1997/1998).
↑ abMargulis, Lynn; Sagan, Dorion (2002). Acquiring Genomes. A Theory of the Origins of Species. New York: Basic Books. p. 7-8. 240 páginas. ISBN0-465-04392-5 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Gillespie, John H (1998). Population Genetics. A Concise Guide. Baltimore/London: The Johns Hopkins University Press. p. 19-48. 169 páginas. ISBN0-8018-5755-4
↑Darwin, Charles (2003). A Origem das Espécies e a Seleção Natural. São Paulo: Hemus. 471 páginas. ISBN85-289-0134-3
↑Michaelewicz, Zbigniew (1999). Genetic Algorithms + Data Structures = Evolution Programs (em inglês) 3ª ed. Berlin: Springer. p. 14-15. 387 páginas. ISBN3-540-60676-9
↑Linden, Ricardo (2006). Algoritmos Genéticos. Uma importante ferramenta da Inteligência Computacional. Rio de Janeiro: Brasport. p. 52. 348 páginas. ISBN85-7452-265-1
↑Mitchell, Melaine (1996). An Introduction to Genetic Algorithms (em inglês). Cambridge, Massachusetts: MIT Press. p. 100-104. 209 páginas. ISBN0-262-63185-7