A fundadora dedicou o mosteiro ao Augusto Sacramento da Eucaristia, dotou-o de avultados bens e entregou-o à Ordem de São Domingos, filiando-se no Mosteiro de São Domingos das Donas de Santarém. Um conflito jurídico com o Bispo do Porto, que à época se opôs à sua fundação, provocou atraso significativo na abertura do mosteiro, o que veio a acontecer apenas em 1354.
A primitiva igreja do convento sofreu uma degradação gradual devido às cheias do rio Douro (junto ao qual se localizava), o que levou à edificação de um novo templo, cujas obras tiveram início na segunda metade do século XVII com traça do padre Pantaleão da Rocha de Magalhães - responsável por várias obras no Porto e arredores -, seguindo o modelo do templo lisboeta do Mosteiro do Bom Sucesso de Santa Maria de Belém, pertencente à mesma ordem, e ajustado, nos coros, ao local e às necessidades da congregação, por Gregório Fernandes. Já no século XVIII foi construída a fachada em estilo barroco que antecede o portal da igreja, e onde é patente a influência de Nicolau Nasoni.
Durante o Cerco do Porto, as freiras de Corpus Christi refugiaram-se no Mosteiro de São Salvador de Vairão[2].
As funções conventuais extinguiram-se em 1894 com a morte da última freira, Marcelina Cândida Viana.
Em 1930, o edifício foi entregue às irmãs do Instituto do Bom Pastor que criaram um Instituto Feminino de Educação e Regeneração. O aumento das internadas levou à construção, em 1940, da ala poente do convento, de arquitetura tipicamente Estado Novo.
Revertendo para a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia em 2003, o convento sofreu recentes obras de remodelação, albergando agora um espaço cultural - o Espaço Corpus Christi - e ainda um pólo de mestrado da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.
Características
A igreja, de concepção centralizada, organiza-se ao longo de um eixo, com nave de planta octogonal abobadada, capela-mor a nascente e coros a poente, rematada por uma cúpula.
Em termos artísticos, destacam-se os quatro altares laterais (com imagens de rara beleza], o coro-alto (espaço da primeira fase do barroco, constituído por um cadeiral distribuído em dois níveis, com formato de "U" e talha dourada), o teto formado por 49 caixotões decorados com pinturas a óleo sobre madeira. A pintura e a imaginária que decoram a igreja (teto do coro alto, espaldar do cadeiral e retábulos) apresentam uma iconografia que se enquadra nas temáticas da Ordem, representando Santos, Doutores da Igreja, figuras Dominicanas e outras, com destaque para três devoções principais: o Santo Rosário, o nome de Jesus e a Eucaristia. O cadeiral, da primeira metade do século XVII, para as horas do ofício e para as reuniões conventuais, apresenta a particularidade de, em cada assento, existir uma carranca diferente, representando negros ou exóticos, e espécies animais e vegetais e, cada voluta ser uma máscara esculpida, cada uma diferente das demais, sugerindo influências do Império Ultramarino.
CAMPO BELO, Conde de. O Mosteiro de Corpus Christi de Gaia. 1938.
FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime. "Algumas obras seiscentistas no Convento de Corpus Christi", in revista Gaya. Vila Nova de Gaia, 1984
FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime. "Magalhães, Padre Pantaleão da Rocha de", in Dicionário da Arte Barroca em Portugal. Lisboa, 1989.
GOMES, Paulo Varela. Arquitectura, Religião e Política em Portugal no século XVII - A Planta Centralizada. Porto, 2001.
PACHECO, Hélder. O Grande Porto. Lisboa, 1986.
PINTO, Maria Augusta Almeida. "Edifícios religiosos de planta centrada entre Vagos e V. N. de Gaia (faixa litoral)", in Espaço e Memória, Revista de Património. Porto, 1996. pp. 61–79
RODRIGUES, Luísa Fernanda Ferreira. O Mosteiro de Corpus Christi de Vila Nova de Gaia. Porto, 1998.