Sua construção teve início no ano de 1551, e após 73 anos, teve a sua conclusão no ano de 1624. Sobre uma elevação, a Casa da Torre foi, originalmente, denominada por seu proprietário como Torre Singela de São Pedro, e é referida ainda como Castelo de Garcia d'Ávila, Torre de Garcia d'Ávila e Forte de Garcia d'Ávila.
História
Origens
A Casa da Torre tem suas origens na iniciativa de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, casado com Catarina Álvares, a Paraguaçu, uma tupinambá batizada na França com o nome de Catarina do Brasil — o primeiro casal cristão na colônia brasileira. A descendência de ambos, através de Diogo Álvares Dias, filho de Genebra Álvares e Vicente Dias, natural de Beja, entrelaçou-se não apenas na progênie (Isabel de Ávila) de Garcia d'Ávila com a indígena Francisca Rodrigues, como na geração de Jerônimo de Albuquerque com a filha do cacique Arcoverde Muira Ubi, da Capitania de Pernambuco. Vinculou-se, mais tarde, com os descendentes de Domingos Pires de Carvalho, casado com Maria da Silva; com a geração de Filippo Cavalcanti casado com Catarina de Albuquerque (de Pernambuco); e com a descendência do casal José Pires de Carvalho—Tereza Vasconcellos Cavalcanti de Albuquerque Deus-Dará, formando o arcabouço da aristocracia do Recôncavo Baiano.
A Casa da Torre foi o embrião de um grande morgado que se iniciou na capitania da Bahia ainda no século XVI e que, por quase 300 anos, expandiu-se ao longo das gerações dos seus senhores por mais de 400 léguas na Região Nordeste do Brasil — um território que correspondia ao dobro da capitania do Piauí — à custa de guerras contra os índios, com escravização destes para trabalharem nas plantações de cana-de-açúcar, nos engenhos de açúcar e nas criações de bois, cavalos e mulas (todos estes animais eram utilizados para transporte em pequenas distâncias e como força de tração nos engenhos). A expansão também foi motivada pela busca por minas de prata, embora só tenham sido encontradas minas de salitre.[2] Constitui-se no centro de um expressivo poder militar no período colonial. De 1798 em diante, esteve envolvido nas lutas pela Independência do Brasil. Muitos dos seus membros foram agraciados com títulos de nobreza tanto por Pedro I do Brasil como por Pedro II do Brasil.
Esse desbravamento no sertão partida da casa da torre, deu origem a figura do vaqueiro, conhecido popularmente como "vaqueiro nordestino", foi através desse desbravamento levando a pecuária pro sertão baiano, que os vaqueiros começaram a aproveitar o couro como "armadura" para lidar com o gado na mata espinhosa.[3][4]
A primitiva estrutura, que corresponde à atual capela, foi uma torre de planta hexagonal, abobadada, com paredes de tijolos. As salas contíguas eram recobertas por cúpulas e abóbadas de arcos cruzados. Em etapa construtiva posterior, a fortificação foi erguida em alvenaria de pedra, desenvolvendo-se simetricamente em torno de um pátio de armas, onde uma escadaria dupla conduzia ao primeiro pavimento.
Em alvenaria de pedra e cal, tinha a função de vigiar o sertão por um lado, resistindo aos ataques dos indígenas revoltados e o mar pelo outro, resistindo aos corsários que então procediam razias no litoral. Uma terceira fase da construção, datada do início do século XVIII, também em pedra, amplia o Castelo.[6]
No século seguinte, o seu sucessor, Garcia de Ávila Pereira, atendeu solicitação do governador-geral dom Rodrigo da Costa (1702-1705) para substituir o antigo Forte da Praia, então desaparecido, e fez construir, às próprias expensas, o Forte de Tatuapara, em alvenaria de pedra e cal (Carta a Garcia d'Avila (3º) em 23 de agosto de 1704. in: "Anais do Arquivo Público da Bahia (Vol. VI)", p. 157-158. Documentos Históricos (Vol. XL), p. 180. apud: CALMON, 1958:150), hoje por sua vez desaparecido. Este morgado comandava, na ocasião, um Regimento de Auxiliares composto por três Companhias, com a função de guarnecer a costa entre o rio Real e o rio Vermelho (CALMON, 1958:130). De acordo com GARRIDO (1940), a sua artilharia teria sido completada em torno de 1710-1711 (op. cit., p. 83). Com a morte de Garcia de Ávila Pereira de Aragão em 1805, na ausência de herdeiros o morgadio da Torre passou para os Pires de Carvalho e Albuquerque (SOUSA, 1983:111). As propriedades dos Ávilas se localizavam, da Bahia ao Maranhão, dentro de uma área de cerca de 800 mil quilômetros quadrados, equivalente a 1/10 do território brasileiro de hoje, o que equivale às áreas, somadas, de Portugal, Espanha, Holanda, Itália e Suíça.[7]
Com os seus recursos exauridos após a Guerra e a extinção dos morgadios no Brasil a partir de 1835, a Casa da Torre foi progressivamente abandonada, transformando-se em ruínas.
Tortura de escravos
Luiz Mott recuperou na Torre do Tombo, em Lisboa, uma denúncia à Inquisição que acusava Garcia d'Ávila Pereira Aragão de torturar escravos com os maiores requintes de crueldade, e também de cometer heresias contra a fé católica. Apesar de não ter sido levada a cabo, a denúncia tem rico valor histórico e antropológico por sua riqueza de detalhes, tanto nos métodos e aparelhos de tortura quanto na gente que habitava o engenho.[8]
Na década de 1980, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) elaborou um projeto de restauração encaminhado à 5ª Diretoria Regional da SPHAN/Pró-Memória. O imóvel, em mãos da iniciativa privada, originou a Fundação Garcia d'Ávila, com vistas a proteger a edificação tombada, restaurando-a e transformando-a em Centro Cultural e Museu Histórico.
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O feudo: a Casa da Torre de Garcia d'Ávila: da conquista dos sertões à independência do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 601p. ISBN 85-200-0523-3
BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368 p.
BARROS, Francisco Borges de. Bandeirantes e Sertanistas Bahianos. Salvador: Imprensa Official do Estado da Bahia, 1919.
CALMON, Pedro. História da Casa da Torre: uma dinastia de pioneiros. s.l.: Livraria José Olympio Editora, 1958.
DORIA, Francisco Antonio. Caramuru e Catarina: lendas e narrativas sobre a Casa da Torre de Garcia d'Ávila. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000. 200p. il. ISBN 8573591250
FALCÃO, Edgard de Cerqueira. Relíquias da Bahia (Brasil). São Paulo: Of. Gráficas Romili e Lanzara, 1940. 508 p. il. p/b
GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
HOLANDA, Gastão de. A Casa da Torre de Garcia d'Ávila. Rio de Janeiro: Arte e Cultura, 2002.
PESSOA, Ângelo Emílio da Silva. A Fuga de Isabel: Herança e Poder na Bahia Colonial. in: Anais do II Encontro Internacional de História Colonial. Mneme – Revista de Humanidades. UFRN. Caicó (RN), v. 9. n. 24, Set/out. 2008. ISSN 1518-3394. Disponível em Mneme Anais
PESSOA, Ângelo Emílio da Silva. As Ruínas da Tradição: a Casa da Torre de Garcia d'Ávila: Família e Poder no Nordeste Colonial. São Paulo: Doutorado em História FFLCH-USP, 2003. Disponível em Teses USP
SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.
VIANNA, Urbino. Bandeiras e Sertanistas Bahianos. São Paulo: Nacional, 1935.