Casa Guilhermina
Casa Guilhermina é o sétimo álbum de estúdio de Ana Moura. Editado a 11 de novembro de 2022, o disco liderou a tabela de vendas nacional, sendo eleito como um dos álbuns do ano por várias publicações de referência portuguesas. Produção e gravaçãoInício das gravações e cisão com a UniversalApós vários anos de digressão contínua, Ana Moura entrou em estúdio em 2019, com a sua equipa habitual e com o produtor norte-americano Emile Haynie, para gravar aquele que seria o sucessor do multiplatinado Moura, lançado em 2015.[1][2] Depois de gravarem as bases do disco em Portugal, o produtor regressou aos Estados Unidos para continuar a trabalhar no álbum, mas deixou de responder aos contactos.[1][3] O disco serviria de mostra para uma nova digressão internacional planeada para 2020, mas que não chegou a acontecer devido à pandemia de COVID-19.[1][2][4] A intensidade do regresso ao estúdio para a gravação do álbum desencadeou uma profunda crise de tristeza e identidade musical na artista.[3][1] Confrontada com o desencontro com Haynie, a artista apercebeu-se que se sentia frustrada com o desgaste da sua carreira.[3][1][5] O processo levou à desvinculação da artista da sua editora de longa data, a Universal, bem como da agência Sons Em Trânsito, onde Vasco Sacramento seguia como seu manager havia cerca de doze anos.[3][6][7] Das gravações iniciais, foi aproveitado apenas o tema "Nossa Senhora das Dores", cuja letra serviu de âncora emocional a Moura durante esta fase.[3][1] Escrita por José Luís Gordo, a canção foi popularizada originalmente por Maria da Fé, que é a madrinha de fado de Ana Moura.[3][1] Esta versão foi gravada num momento de quase espontaneidade: durante uma pausa nas gravações, Moura começou a cantar o tema numa interpretação pouco usual, em jeito de lamento, acabando por pedir a Ângelo Freire que a acompanhasse na guitarra portuguesa.[3][1] Uma nova visão musical, o confinamento e a construção de um novo álbumNessa altura, Ana Moura começou a frequentar as Noites Príncipe e as sessões Na Surra, festas da noite lisboeta organizadas pela Príncipe Discos e pela Enchufada, ambas editoras de influência africana. A artista já tinha mostrado a música de alguns artistas dessas editoras a Haynie, mas reconheceu ter sido nestas festas que se apercebeu estar à procura de uma revolução no seu som.[1] Foi neste circuito que se cruzou com Conan Osíris, com quem cozinhou o álbum desde o início, com o produtor Pedro da Linha e com o artista Pedro Mafama, nomes que acabou por escolher para o desenvolvimento da sua visão artística, que tentava descolar do fado mais convencional que tinha feito até então.[1][3] Depois de uma aproximação inicial descomprometida, em que cada artista manteve outros projetos, os três artistas acabaram por passar períodos do confinamento pandémico em casa de Ana Moura, a seu convite, e o processo de composição do álbum começou efetivamente.[1][3] Casa Guilhermina foi, então, produzido num esforço conjunto: Ana Moura interpretou e assumiu parte da coprodução executiva, Conan Osíris assinou várias letras e outros contributos musicais, Pedro da Linha tomou as rédeas da produção do novo som mais eletrónico de Moura, e Pedro Mafama encarregou-se da direção artística e conceptual do álbum.[1][3][5] João Bessa teve a seu cargo a mistura e a coprodução de alguns temas.[8][9] Além da eletrónica, o disco incorpora uma série de outros géneros, sobretudo ritmos de origem africana, como semba, kizomba e funaná, mas também outras inspirações tradicionais portuguesas, como o fandango.[1][10] Estas influências, bem como o título do álbum e uma das fotos da capa, surgem como homenagem à vida de sua avó angolana, Guilhermina, cuja influência na vida da artista foi notório.[5] As primeiras pistas sobre o novo rumo sonoro do trabalho de Ana Moura surgiram a 3 janeiro de 2020, com o lançamento de "Vinte Vinte" , um single em que colaborou com Conan Osíris.[11][12] Produzido por Branko, o tema surgiu a convite do estilista Luís Carvalho, que desafiara Moura a compor música eletrónica para um dos seus desfiles, e seria relançado em 2021, sob o nome "Vinte Vinte (Pranto)" e com um videoclipe.[1] Apesar de não ter entrado no alinhamento do novo disco, a canção serviu de cartão de visita da estreita colaboração que Moura desenvolveu com Osíris e, também, com Mafama, que teve a ideia original do vídeo.[12] O lançamento do álbum foi antecipado por quatro singles. A 30 de abril de 2021, "Andorinhas" foi lançado como tema de apresentação do disco.[13][14] Seguiu-se "Jacarandá", editado em julho do mesmo ano.[15] O terceiro single, "Agarra em Mim", saiu quase um ano mais tarde, em maio de 2022, e contou com Mafama como artista convidado.[16] "Arraial Triste", o último single antes da chegada do álbum, foi lançado a 21 de outubro de 2022, coincidindo com o anúncio da data de lançamento, título e capa do álbum.[17][18] Receção e reconhecimentoAinda antes do lançamento do disco, em outubro de 2022, Ana Moura recebeu o Globo de Ouro na categoria de Melhor Música, pela canção "Andorinhas".[19] Casa Guilhermina entrou diretamente para o primeiro lugar da tabela de vendas nacional, segurando a posição por várias semanas.[20][21] O disco foi genericamente bem recebido pela crítica: na revista Time Out, recebendo a classificação de cinco estrelas; o jornal Público deu-lhe três estrelas e meia.[1] Foi considerado o melhor álbum português de 2022 pela equipa da BLITZ.[22] Na Antena 3, entrou nas listas de melhores do ano dos locutores João André Oliveira, Luís Oliveira e Marta Rocha.[23][24][25] Também entrou nos melhores do ano para o site especializado Rimas e Batidas e para o Observador, escolha do jornalista Luís Freitas Branco.[26][27][3] Tozé Brito descreveu-o um título "fraturante" da música portuguesa.[28] Casa Guilhermina foi considerado o grande vencedor da edição de 2023 dos Play - Prémios da Música Portuguesa. O disco venceu na categoria de Melhor Álbum e conquistou o Prémio Crítica; já Ana Moura foi reconhecida como Melhor Artista Feminina.[29][30] O single "Agarra Em Mim" estava nomeado para a categoria de Melhor Canção, mas o galardão acabou por ser entregue a Ivandro.[29][30] Alinhamento
Ver tambémReferências
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