No cinema brasileiro, destacou-se como um dos principais diretores do foco de produção da chamada "Boca do Lixo" paulistana, onde realizou seus primeiros trabalhos como diretor e trabalhou, como fotógrafo, em filmes de colegas cineastas[2].
Escreveu e dirigiu mais de 20 filmes, entre longa-metragens, curtas e episódios em antologias[3], acumulando diversos prêmios no Brasil e no exterior. Dirigiu e fotografou mais de 200 filmes comerciais e institucionais entre 1971 e 1974.
Biografia
De origens teutônicas,[4] com um ano de idade passou a morar em São Paulo. Foi criado com uma educação literária e musical erudita, fornecida por seu pai, importante editor e industrial gráfico[5], que eventualmente viria a se refletir de modo particular em sua obra cinematográfica.
Cursou a Escola Superior de Cinema São Luiz, integrando a segunda turma da instituição. Ali, formou-se o núcleo duro que ajudou a desenvolver o chamado Cinema Marginal em São Paulo. Seu primeiro curta-metragem[6], Essa Rua Tão Augusta (1968), foi rodado como um trabalho para a São Luiz.
Em paralelo às aulas na Escola de Cinema, frequentava assiduamente a Boca do Lixo, onde fervilhava a boemia entre os trabalhadores braçais da indústria cinematográfica e a juventude intelectual que aspirava firmar-se como cineasta. Nesse período, travou amizade com nomes ainda desconhecidos, mas que logo fariam história no cinema brasileiro, como Rogério Sganzerla e Ozualdo Candeias, que viriam a se tornar colegas geracionais[9].
Sob o sistema de produção da Boca do Lixo, realizou, com João Callegaro e Antônio Lima, seus primeiros filmes de longa-metragem: as antologias de episódios "As Libertinas" (1968) e "Audácia! — A Fúria dos Desejos" (1969).[10] O primeiro crédito solo de diretor veio com Corrida em Busca do Amor (1972), sucedido por Lillian M.: Confissões Amorosas / Relatório Confidencial (1974), longa de maior complexidade narrativa e estética que o consolidou como um dos jovens cineastas mais expressivos do grupo paulistano[11].
Após uma experiência conturbada com a direção de Capuzes Negros (1977), filme onde originalmente trabalharia apenas como técnico de iluminação[12], atingiu êxito com A Ilha dos Prazeres Proibidos, lançado no ano seguinte, onde já estão características que se tornariam tradicionais em seu cinema, como a alegoria à situação político-social do Brasil, as personagens militantes e intelectuais, a ironia fina, o erotismo elegante (que o diferenciava da maior parte dos expoentes da pornochanchada) e a mescla entre o erudito e o popular[13]. Trabalhos como Amor, Palavra Prostituta, Extremos do Prazer e O Império do Desejo compartilhariam esses aspectos temáticos. Entre outros elementos recorrentes em sua obra, está a participação, como ator, do poeta Orlando Parolini, amigo e influência primordial de Reichenbach[14].
Mesmo rodando numerosos trabalhos como diretor, seguiu trabalhando como operador de câmera e diretor de fotografia em filmes comandados por colegas da Boca do Lixo, como Jairo Ferreira, Alfredo Sterheim e Jean Garrett, que considerava Reichenbach seu fotógrafo favorito[15]. Não raro, também dava conta, parcial ou totalmente, da fotografia em seus próprios projetos autorais, onde por vezes também se encarregava da composição e execução da trilha sonora[16].
Foi responsável por um dos poucos longa-metragens brasileiros completados e lançados em circuito comercial do ano de 1993 com Alma Corsária, um de seus filmes mais pessoais[17], finalizado em um período de escassez do cinema nacional graças à extinção da Embrafilme, produtora e distribuidora de capital misto que dava conta da parcela majoritária dos filmes brasileiros a lograr lançamento comercial, pelo governo de Fernando Collor de Mello.[18]
Cinéfilo voraz, Reichenbach atuou como professor em cursos de cinema e mantinha blogs, como Reduto do Comodoro[19] e Olhos Livres[20], onde escrevia com regularidade sobre filmes antigos, lançamentos, música e festivais de cinema. Entre 2004 e 2012, organizou um cineclube intitulado "Sessão do Comodoro", no CineSESC da Rua Augusta[21], onde exibia cópias em DVD de filmes de seu acervo pessoal em sessões abertas para debate.
Dois de seus últimos filmes, Garotas do ABC (2003) e Falsa Loura (2007), foram adaptados de um projeto longamente planejado por Reichenbach, "ABC Clube Democrático" (ou "Sonhos de Vida, Vida de Sonhos"). Jamais realizada integralmente, por questões de viabilidade, a empreitada compreenderia quatro longa-metragens, interligados pela presença de um mesmo grupo de personagens, que discorressem sobre a vida pessoal e profissional de trabalhadoras da indústria têxtil no ABC Paulista. Os quatro roteiros originais foram publicados em livro por Reichenbach, em 2009[22].
Morte
Carlos morreu em 2012, aos 67 anos, vítima de parada cardiorrespiratória.[1] Seus últimos filmes foram recebidos com pouco entusiasmo pela crítica e pelas premiações da época[23][24], ganhando reconhecimento posterior à sua morte e reacendendo o interesse em sua obra pelas novas gerações de espectadores aficionados pelo cinema brasileiro.[25]
Filmografia
1967 - Esta Rua tão Augusta (curta-metragem)
1968 - As Libertinas (episódio: Alice)
1970 - Audácia! — A Fúria dos Desejos (episódio: A Badaladíssima dos Trópicos X os Picaretas do Sexo)
LYRA, Marcelo. Carlos Reichenbach: O Cinema Como Razão de Viver São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004., ISBN 85-7060-237-5.
REICHENBACH, Carlos. ABC Clube Democrático: 4 Roteiros de Carlos Reichenbach. São Paulo: ABCD Maior, 2009., ISBN 8561488026
Entrevistas
Carlão: erudito e popular - homenagem a Carlos Reichenbach. YouTube Entrevista em Junho de 2011. Minissérie Boca do Lixo: a Bollywood brasileira, dirigida por Daniel Camargo.
Entrevista SescTv. Homenagem a Carlos Reichenbach no YouTube.
Carlos Reichenbach nos 10 Anos do Canal Brasil no YouTube.
Carlos Reichenbach - Especial TV PUC-SP no YouTube. Gravado sob direção de Pedro Dantas em julho de 2005 durante o IV Festival Santa Maria Vídeo e Cinema, no interior do Rio Grande do Sul.