Capela de São Mateus de Arnelas
A Capela de São Mateus de Arnelas é um edifício religioso situado na aldeia de Arnelas, na freguesia de Sandim, Olival, Lever e Crestuma, do Município de Vila Nova de Gaia, no Norte de Portugal.[1]
Descrição
A capela situa-se num local proeminente em Arnelas, de forma a dominar tanto a povoação como a paisagem.[2] No interior do templo destacam-se os altares, decorados com talha dourada no estilos Joanino e Barroco, e os retábulos do altar-mor e colaterais, com imagens de grande valor.[3]
História
As obras iniciaram-se em 1723, financiadas pelas receitas do imposto sobre o sal, que era comercializado nas proximidades, e sobre o Vinho do Douro que era desembarcado em Arnelas.[4] A construção da capela foi descrita pelo padre Luis Cardoso no seu dicionário de 1747, relato que foi copiado por D. Domingos de Pinho no artigo A Talha dourada da Capela de Arnelas, Freguesia do Olival – Vila Nova de Gaia, publicado na Revista do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, em 1987.[2] Neste relato, é de realçar a presença de um edifício anterior, que foi substituído pela capela:
- «Fica este lugar distante da freguesia espaço de uma grande légua, e por isso tem capela para o povo, a qual foi fundada haverá cem anos pela mesma freguesia para dela se administrar o Sagrado Viático aos enfermos, e, sendo esta pequena, se deliberaram zelosos os moradores deste lugar a pedir a Sua Majestade o Senhor Rei D. João V, que Deus guarde, provisão para se lançar um real em cada quartilho de vinho e cada rasa de sal que se vendesse em todo o Couto (de Crestuma) para reedificação ou ampliação da dita capela, que com efeito lhes concedeu; e correndo alguns anos, de seis que lhe foram concedidos, se lançou a primeira pedra no novo edifício em 20 de Outubro de 1723, desobrigando-se o mais corpo da freguesia da fábrica dela; e continuando com incansável zelo de alguns moradores se concluiu de paredes e tecto a capela-mor, em que se celebrou a primeira Missa em dia da Ascensão de Cristo no ano 1727. Porém, por se acabarem os anos da provisão, parou a obra, e ainda que já se lhe concedeu outra de novo, até agora se não continuou com o corpo da ermida, que ainda falta. É esta capela, para a pequenez do lugar, obra certamente sumptuosa e depois de acabada não haverá nas freguesias vizinhas melhor templo. Acha se já bastante provida de ornamentos e tem um grande cálice dourado e outro mais pequeno para uso comum. Tem um nobilissimo retábulo com a sua tribuna, obra moderna, que se fez no ano de 1732 por particular esmola a devoção de um morador do lugar. Nele está colocado o sagrado apóstolo e evangelista S. Mateus, ao qual é dedicada, em correspondência dele Santo Tomás de Aquino; e na tribuna uma perfeita imagem de Cristo crucificado com o titulo de Bom Jesus do Triunfo. A capela é de uma só nave e dous altares colaterais estão destinados, o do parte do evangelho para Santa Ana e o da parte da Epístola para Santo António.».[2]
A capela pode ser considerada como um exemplo de como a riqueza económica do país, durante o século XVIII, foi aplicada em obras da igreja, tendo a sua decoração e recheio seguido os ideais introduzidos pelo Concílio de Trento, que reforçou a importância das imagens para o culto.[2] Desta forma, o retábulo, a azulejaria e a escultura na capela surgem como manifestações dessa riqueza e do poder do estado e da igreja, de forma a influenciar a permanência dos fiéis além da cerimónia da eucaristia.[2] Os elementos do altar, do retábulo e do sacrário foram dispostos de forma a estabelecer o espaço sagrado dentro do edifício.[2]
O interior do edifício também foi descrito por José Afonso Ferrão na sua dissertação Arnelas: uma villa contra a cidade?, publicada na obra Actas I Congresso Internacional de Vinho Verde, História, Economia, Sociedade e Património, de 2007:
- «estamos em presença de um belo exemplar de retábulo joanino com duas colunas de cada lado, mais reintrantes as interiores, e uma imagem em cada intercolúnio. As colunas são suportadas por anjos; a zona do sacrário é bem tratada; na parte superior, ao centro, cobrindo o trono, implanta-se o dossel saliente com cortinados que anjos apanham e seguram. O trono é encimado por um belo Crucifixo (Senhor do Triunfo) ladeado por dois anjos. Diga-se, desde já, que as imagens do retábulo (São Mateus e São Tomás de Aquino) são duas belas esculturas. As colunas são retorcidas, com o terço inferior marcado, e as silvas, flores e folhas sobem nas reintrâncias ou cavado em espiral ou caracol, trabalhadas com perfeição. As imagens laterais são suportadas por anjos-misulas, sobre elas, cúpulas de denso cortinado fingido. O frontal é uma linda peça elegantíssima. [...] dizem os apontamentos do contrato que o mestre que ajustasse o retábulo-mor devia fazer «também duas credencias que serão de boa talha com miudeza e relevo e os pés com galantaria que (a)o mestre parecer com beneplácito do dono de obra». Sobrevivem essas duas credências. São dois os retábulos colaterais: o do lado do evangelho dedicado a Santa Ana; o do lado da epístola, dedicado a Santo António. Ambos com diversas imagens: o de Santa Ana, com o grupo triplice S.ta Ana, Nossa Senhora e o Menino, e, em plano inferior, S. José e S. João. O conjunto forma a chamada sacra Parentela. O de Santo António contém mais as imagens de S. Sebastião e Santo Ildefonso. Estes dois retábulos são um pouco posteriores ao retábulo-mor [...] Cobre-os a toda a largura o dossel sobrepujado por dois anjos. Pilastras com cariátides substituem as colunas. Os frontais dos altares são de talha fina, elegantíssima. Pelas afinidades estilísticas com o retábulo-mor, podemos concluir com segurança que foram executados pelo mesmo mestre: Manuel da Costa de Andrade. Do mesmo autor, certamente, é o belo púlpito da capela. De estilo joanino, integra-se no conjunto da talha da mesma capela.».[2]
Este poderá não ter sido o único templo católico em Arnelas, existindo uma referência a uma ermida dedicada a Santo André.[2]
Em 1986, o Gabinete de História e Arqueologia do município de Vila Nova de Gaia fez uma proposta ao Instituto Português do Património Cultural, no sentido de classificar a localidade em si de Arnelas, em conjunto com vários elementos patrimoniais em redor, incluindo a Capela de São Mateus de Arnelas, como Imóveis de Interesse Público.[2] O processo foi remetido para a Direcção Regional do Porto do IPPC em 1992, mas não chegou a ter seguimento.[2] Em 6 de Junho de 2018, a Direcção Regional de Cultura do Norte emitiu uma proposta para classificação da capela e do seu património móvel, tendo o despacho de abertura sido publicado em 2 de Julho desse ano, e o processo de classificação sido oficialmente iniciado pelo Anúncio n.º 175/2018, de 3 de Agosto.[5]
Em 2020, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia encetou trabalhos de restauro nos altares da Capela de São Mateus, devido ao avançado estado de degradação em que se encontravam.[3] As obras custaram cerca de 66 mil Euros, tendo sido oficialmente concluídas com uma cerimónia em 27 de Setembro desse ano.[3]
Ver também
Referências
Ligações externas
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