Em setembro, os texanos começaram a planejar o sequestro do General mexicano Martín Perfecto de Cos, que estava en route a Goliad para tentar suprimir o tumulto no Texas. O plano foi inicialmente rejeitado pelo comitê central que coordenava a rebelião. No entanto, alguns dias após da vitória texana na Batalha de Gonzales, o Capitão George Collingsworth e membros da milícia texana em Matagorda começaram a marchar rumo a Goliad. Os texanos logo perceberam que Cos e seus homens já haviam partido para San Antonio de Béxar, porém continuaram a marcha.
A guarnição de La Bahía sofria com a falta de pessoal e não podia montar uma defesa efetiva do perímetro do forte. Usando machados emprestados pelos cidadãos da cidade, os texanos conseguiram talhar uma porta e entrar no complexo antes que a maior parte dos soldados estivesse ciente de sua presença. Após uma batalha de trinta minutos, a guarnição mexicana, sob o comando do Coronel Juan López Sandoval, se rendeu. Um soldado mexicano foi assassinado e três outros feridos, enquanto somente um texano saiu machucado. A maior parte dos soldados mexicanos foram instruídos a se retirar do Texas, e os texanos confiscaram US$ 10 000 em provisões e diversos canhões, os quais logo foram transportados ao Exército Texano para uso no Cerco de Béxar. A vitória isolou os homens de Cos em Béxar a partir da costa, forçando-os a contar com uma longa marcha terrestre para solicitar ou receber reforços ou suprimentos.
Contexto
Em 1835, o México operava duas guarnições principais dentro do Texas, o Alamo em San Antonio de Béxar e Presidio La Bahía próximo de Goliad.[1] Béxar era o centro político do Texas e Goliad localizava-se entre a cidade e o principal porto do Texas, na Baía de Copano. Suprimentos militares e civis e pessoal militar eram geralmente levados pelo mar do interior do México à Baía de Copano para então serem transportados por terra até os assentamentos do Texas.[2]
No começo do ano, enquanto o governo mexicano fazia a transição de um modelo federalista para um centralismo, os cautelosos colonos do Texas começaram a formar Comitês de Correspondência e Segurança. Um comitê central em San Felipe de Austin coordenava suas atividades.[3] Os texanos encenaram uma revolta menor contra os impostos alfandegários em junho; as Perturbações de Anahuac, como o episódio ficou conhecido, levaram o presidente mexicano Antonio López de Santa Anna a enviar tropas adicionais ao Texas.[4] Em julho, o Coronel Nicolas Condelle levou duzentos homens para reforçar o Presidio La Bahía. No mês seguinte, um contingente de soldados chegou à Béxar com o Coronel Domingo de Ugartechea.[5] Temendo que medidas mais fortes fossem necessárias para suprimir o tumulto, Santa Anna deu ordens a seu cunhado, GeneralMartín Perfecto de Cos, para "reprimir com braço forte todos aqueles que, esquecendo de seus deveres para com a nação que os adotou como seus filhos, estivessem levando adiante um desejo de viver de sua própria maneira sem sujeição às leis".[4][6] Cos chegou à Baía de Copano em 20 de setembro com aproximados quinhentos soldados[5] e brevemente passou pelo porto e por uma pequena guarnição na cidade próxima de Refugio, deixando pequenos grupos militares para reforçar cada um destes locais.[7] O principal corpo de soldados chegou à Goliad em 2 de outubro.[6]
Sem o conhecimento de Cos, já em 18 de setembro, diversos texanos, incluindo James Fannin, Philip Dimmitt e John Linn, começaram a advogar alheios à necessidade de um plano para sequestrá-lo, ou em Copano ou em Goliad.[6] Assim que os navios de guerra de Cos foram avistados se aproximando da Baía de Copano, os colonos de Refugio enviaram mensageiros à San Felipe de Austin e Matagorda para informar os outros assentamentos da chegada iminente de Cos. Preocupado que a falta de artilharia faria do Presidio em Goliad impossível de ser capturado, o comitê central decidiu não ordenar um ataque.[8]
Apesar de Fannin, Dimmitt e Linn continuarem a pressionar por um ataque a Goliad, a atenção texana logo foi transferida para Gonzales, onde um pequeno grupo de texanos estava se recusando a obedecer as ordens de Ugartechea. Os colonos rapidamente correram para ajudar, e em 2 de outubro a Batalha de Gonzales iniciou oficialmente a Revolução do Texas. Após ter conhecimento da vitória texana, Cos se apressou para chegar à Béxar. Partiu com o maior contingente de seus soldados em 5 de outubro, e no entanto, uma vez que não foi capaz de encontrar um transporte adequado, a maioria de seus suprimentos permaneceu em La Bahía.[6]
Antecedentes
Em 6 de outubro, membros da milícia texana em Matagorda se congregaram na casa de Sylvanus Hatch. Como sua primeira ordem, eles elegeram George Collingsworth como seu Capitão; Dr. William Carleton foi então nomeado Primeiro-tenente e D.C. Collingsworth se tornou o Segundo-tenente da unidade. Após escolher seus líderes, os homens decidiram marchar até La Bahía. Eles planejavam sequestrar Cos e, se possível, roubar um valor estimado de US$ 50 mil que, segundo rumores, o acompanhava.[9] Os texanos enviaram mensageiros para alertar os assentamentos próximos de sua expedição. À tarde, 50 texanos estavam prontos para marchar partindo de Matagorda.[2][9] Durante a marcha, por razões desconhecidas, os homens demitiram Carleton e apontaram James W. Moore como seu novo Primeiro-tenente.[9]
No dia seguinte, a expedição parou em Victoria, onde colonos falantes do inglês oriundos de outros assentamentos e 30 tejanos logo se juntaram ao grupo. Apesar de nenhuma lista exata ter sido mantida, o historiador Stephen Hardin estima que as forças texanas incharam para 125 homens. Quarenta e nove deles assinaram um "Acordo de Voluntariado sob Collingsworth" em 9 de outubro. Estes homens juraram que eram fieis ao governo federal mexicano e que não fariam mal a ninguém que permanecesse leal à causa federalista.[10]
Um dos novos rostos, o mercante Philip Dimmitt, recebeu uma missiva do agente alfandegário de Goliad com notícias de que Cos e seu fundo de guerra já haviam partido de La Bahía em direção à San Antonio de Béxar.[11] Sem recuar, o grupo continuou a marcha em 9 de outubro.[10]Ira Ingram liderou a vanguarda, que parou a 1,6 quilômetros de Goliad.[12] Os eventos seguintes não são muito claros. Segundo as memórias do General mexicano Vicente Filisola, que não estava no Texas em 1835, os texanos tramaram atrair o comandante do Presidio, Coronel Juan López Sandoval, e seus oficiais para fora do forte. Os texanos supostamente planejaram um baile em Goliad, em 9 de outubro, e convidaram os oficiais mexicanos. Sandoval, Capitão Manuel Sabriego e Tenente Jesus de la Garza brevemente participaram do baile, porém suspeitaram ser alguma armadilha e retornaram ao forte.[13] Nenhuma fonte texana menciona tal plano. Diversos texanos, incluindo Dimmitt, entraram de fato na cidade naquela noite para tentar encontrar guias e apoio para o esforço.[12] Os esforços de Dimmitt lograram êxito, e vários tejanos que viviam perto de Goliad se uniram à força texana. Eles informaram que Sandoval comandava somente 50 homens—bem menos que o número necessário para defender todo o perímetro do forte—e forneceram direções até o local.[1][10][14]
O corpo principal dos soldados texanos, sob o comando de Collingsworth, se desorientou no escuro e desviou da estrada, se perdendo em um bosque de mesquite. Enquanto voltavam o caminho até a estrada, os texanos encontraram Ben Milam, um colono do Texas que havia escapado recentemente da prisão em Monterrey. Milam se juntou a milícia como Soldado raso, e o grupo logo se reuniu à vanguarda.[14]
Confronto
À medida que as forças texanas combinadas se preparavam para a batalha, eles enviaram uma mensagem para instruir o alcaide da cidade a se render. Às 11h da noite, o alcaide respondeu que a cidade permaneceria neutra, nem se rendendo nem lutando. Entretanto, vários cidadãos forneceram machados à milícia texana.[14] Os texanos se dividiram em quatro grupos, a cada um sendo designada uma abordagem diferente para o Presidio.[15] Nas horas antes do amanhecer de 10 de outubro, os texanos atacaram.[14] O único sentinela conseguiu dar o alarme, mas foi imediatamente abatido.[15] Os texanos rapidamente talharam uma porta na parede norte da fortaleza e correram para o pátio interior. Ouvindo a comoção, os soldados mexicanos se alinharam às paredes para defender o forte.[16]
Os soldados mexicanos abriram fogo, acertando Samuel McCulloch, um escravo que George Collingsworth havia libertado, no ombro.[14] Os texanos responderam atirando por aproximadamente 30 minutos. Durante uma pausa na luta, um porta-voz texano gritou, afirmando que os texanos "massacr[ariam] todos vocês, a menos que saiam imediatamente e se rendam". A guarnição mexicana imediatamente se rendeu.[17]
Resultado
McCulloch foi o único soldado texano a ser ferido, e ele mais tarde afirmou ser o "primeiro cujo sangue foi derramado na Guerra de Independência do Texas".[18] Esta distinção lhe valeu um lar permanente; uma lei posterior proibiu qualquer escravo livre de residir na República do Texas, mas em 1840 a Assembleia Legislativa do Texas excluiu especificamente McCulloch, sua família e seus descendentes de tal aplicação, como recompensa pelo seu serviço e por seu ferimento.[19]
Estimativas de baixas mexicanas variam de um a três soldados mortos e de três a sete feridos.[6][16] Aproximadamente 20 soldados fugiram. Eles alertaram as guarnições em Copano e Refugio sobre o avanço dos texanos; os soldados dessas guarnições abandonaram seus postos e se juntaram a outros no Forte Lipantitlán.[6] Milam escoltou os soldados mexicanos restantes para Gonzales, onde o recém-formado Exército Texano estava localizado.[17][20] O Comandante do Exército Texano, Stephen F. Austin, posteriormente libertou todos os homens, sob a condição de que deixassem o Texas e jurassem parar de lutar contra residentes do Texas.[16] Um soldado mexicano ferido obteve permissão para permanecer em Goliad, assim como o Capitão Manuel Sabriego, que era casado com uma mulher local.[17] Secretamente, Sabriego começou a organizar um grupo de colonos da área de Goliad que simpatizavam com o México.[6]
Tropas texanas confiscaram as provisões que encontraram no forte. Apesar de acharem 300 mosquetes, a maior parte deles estavam quebrados e impossíveis de serem reparados.[16][17] Dimmitt contratou dois armeiros capazes de fazer as armas restantes funcionarem.[21] Comida, roupas, cobertores e outras provisões foram avaliadas em US$ 10 mil.[16] O novo oficial responsável pelas provisões do forte, John J. Linn, reportou que 175 barris de farinha haviam sido confiscados, junto com um grande estoque de açúcar, café, whiskey e rum.[21] Durante os três meses seguintes, as provisões foram divididas entre as companhias do Exército Texano.[6] Os texanos também obtiveram o controle de diversos canhões.[18]
Nos dias seguintes, mais colonos texanos se juntaram ao grupo em La Bahía. Muitos deles eram de Refugio, o assentamento mais distante de Matagorda. O historiador Hobart Huson especula que estes homens foram os últimos a ouvir sobre o ataque planejado.[22] Austin ordenou que 100 homens permanecessem em Goliad sob o comando de Dimmitt, enquanto o resto se juntaria ao Exército Texano na marcha até as tropas de Cos em Béxar. Collingsworth retornou à Matagorda para recrutar mais soldados, mas em 14 de outubro, os texanos que permaneceram em Goliad começaram a marchar em direção a Béxar.[6]
A perda de Goliad significava que Cos havia perdido seus meios de comunicação com a Baía de Copano, o porto mais próximo a Béxar.[17] As tropas mexicanas na guarnição de Béxar agora precisariam obter suprimentos e reforços por terra.[23]
Hardin, Stephen L. (1994). Texian Iliad – A Military History of the Texas Revolution. University of Texas Press. Austin, Texas: [s.n.] ISBN0-292-73086-1 OCLC 29704011 Verifique |isbn= (ajuda)
Huson, Hobart (1974). Captain Phillip Dimmitt's Commandancy of Goliad, 1835–1836: An Episode of the Mexican Federalist War in Texas, Usually Referred to as the Texian Revolution. Von Boeckmann-Jones Co. Austin, Texas: [s.n.]
Roell, Craig H. (1994). Remember Goliad! A History of La Bahia. Texas State Historical Association. Fred Rider Cotten Popular History Series 9 ed. Austin, Texas: [s.n.] ISBN0-87611-141-X
Scott, Robert (2000). After the Alamo. Republic of Texas Press. Plano, Texas: [s.n.] ISBN978-0-585-22788-7