Van de Velde foi tão exímio a descrever a violência da tempestade que a força do vento e o bater das ondas são quase palpáveis. O sol acaba de furar pelas escuras e ameaçadoras nuvens e faz brilhar a vela do pequeno navio em primeiro plano.[1]
Descrição
A emoção e o perigo das viagens marítimas no século XVII é expressivamente representada neste grande tela. Willem van de Velde II, filho de um proeminente pintor de cenas de batalha naval, foi ele próprio um marinheiro experiente, e as suas pinturas eram apreciadas pelas suas representações realistas de embarcações e do velejar. Em Navios em Mar Tormentoso , ele descreveu com precisão diferentes tipos de navios e de manobras de vela. O navio destacado em primeiro plano, por exemplo, é um kaag, um pequeno navio de pesca e de transporte, mostrado a navegar à bolina na forte brisa - uma das manobras de vela mais difíceis, em que a embarcação navega contra o vento o mais de frente possível evitando que as velas desenfunem inutilmente. As nuvens parecem estar a mover-se rapidamente, empurradas pelo vento que também está a agitar o mar. A luz solar surge através das nuvens; toda a natureza parece carregada com uma sensação de movimento e mudança. Van de Velde capturou tanto o poder do vento e das ondas como a reconfortante perícia dos marinheiros.[2]
Contexto
A emergente República Holandesa tinha uma relação estreita e ambivalente com o mar. Por um lado, o seu território tinha de ser constantemente conquistado e protegido dos avanços do mar por meio da construção de diques; por outro, o comércio marítimo com o Extremo Oriente, a pesca e a caça de baleias, e as atividades da então dominante frota naval holandesa eram essenciais para a economia e o poder dos Países Baixos. Assim, não é de admirar que os holandeses tenham inventado as paisagens marinhas para salientar uma parte integrante das suas vidas e da sua prosperidade.[2]
A obra "gémea" de Turner
Em 1802, o Duque de Bridgewater encomendou a J. M. W. Turner a obra conhecida por Barcos holandeses com Ventania (Dutch Boats in a Gale) (imagem ao lado) para ser exposta junto da obra de Willem van de Velde II que já lhe pertencia.[3]
Turner estudou a pintura de van de Velde cuidadosamente, como se pode ver pelos estudos que fez na altura, e esta sua obra tinha tantas semelhanças com a de van de Velde que Constable uma vez afirmou que conhecia a pintura de van de Velde em que Turner se tinha baseado. O interesse de Turner na obra de Van de Velde é corroborado ainda por uma história contada na primeira biografia de Turner por Walter Thornbury. Conta-se que apreciando gravuras de algumas obras de arte com um amigo, Turner pegou numa relativa a Van de Velde acerca de um barco isolado velejando contra o vento e suportando corajosamente as ondas e disse: “Isto fez de mim um pintor”.[4]
↑ abInformação sobre a pintura de Van de Velde na página do Toledo Museum of Art, [2]
↑Nota sobre a pintura de Turner na página web da Tate Gallery, [3]
↑Isham, Howard F., Image of the Sea: Oceanic Consciousness in the Romantic Century, 2004, Peter Lang, Nova Iorque, pag. 38, [4]
Bibliografia
Thornbury, George Walter, The Live of J. M. W. Turner, 1862, Londres, em 2 vol., [5]
Hofstede de Groot, C., A Catalogue Raisonné of the Works of the Most Eminent Dutch Painters, 1923, VII, pp. 129-130, no. 488.
Butlin, M., "Turner's Bridgewater Sea Piece," Christie's Review of the Season, Londres e Nova Iorque, 1976, pp. 13, 70, 72.
Butlin, M. e E. Joll, The Paintings of J.M.W. Turner, New Haven e Londres, 1977, pp. 11, 12, pl. 15. (Uma síntese detalhada da relação entre Dutch Boats in a Gale (ou "The Bridgewater Seapiece") de 1802 de Turner a obra de Van de Velde).
Robinson, M.S., Van de Velde: a Catalogue of the Paintings of the Elder and Younger Willem van de Velde, Greenwich (Eng.), 1990, vol. 2, pp. 828-830, (como "A Kaag at Sea in a Fresh Breeze").
Toledo Museum of Art, Toledo Treasures, Toledo, 1995, p. 99.
Taylor, James, Marine Paintings: Images of Sail, Sea and Shore, Londres, 1995, p. 93.
Bachrach, Fred G.H., Turner's Holland, Londres, 1994, pp. 28-29, fig. 1b.
The Toledo Museum of Art, Toledo Museum of Art Masterworks, Toledo, 2009, p. 181.
Solkin, David, ed., Turner and the Masters, Londres, Tate Britain, 2009, no. 19, pp. 73, 118-120, p. 73.