Este texto é um exemplo de sua "prosa colorida, de um estilo personalíssimo (...) [com] descrições pródigas de cores e fantasia extraordinariamente fecunda".[1]
Análise da obra
Através da literatura o autor leva o leitor aos poucos a aceitar o fantástico como algo natural, usando deste recurso para romper com o habitual, o cotidiano.[2]
Já no título, a palavra avatar remete à transformação, ao duplo, à pessoa adotando uma nova personalidade - além dos próprios conceitos que o termo ganhou ao se popularizar a partir da década de 1980 com a informática; avatar, no sânscrito, reporta à personificação de uma deidade e está ligada à figura de Vishnu, que é referida na obra, junto a outros conceitos que reportam ao hinduísmo, como "alma" e "magnetismo", que envolvem o leitor numa atmosfera de ocultismo e mistério.[2]
A narrativa começa por mostrar o mal que sofre Octave (Otávio), descrevendo sua moradia de modo a explicar o sofrimento que demonstra por uma "ideia fixa", caracterizado pelo amor-paixão, inatingível, característico do romantismo; ao descrever o personagem Gautier realça, como é sua característica, a descrição de seus olhos.[2]
A chegada do médico vindo do estrangeiro é o elemento que provoca a ruptura do ambiente comum em que vive o protagonista (Otávio) e com ele a introdução da realidade fantástica que este aprendera no Oriente; este então consegue que o jovem revele seu verdadeiro mal, confessando estar a "morrer de amor".[2] A partir deste momento vê-se a criação da figura idealizada pelo amor do protagonista pela condessa que conhecera em Veneza, tanto nas suas formas físicas quanto nas manifestações do caráter: o objeto do amor deixa de ser real para se tornar ideal, levando portanto ao inatingível.[2]
Para Ceserani o amor romântico surge a partir da queda do Antigo Regime, onde a crise da nobreza se junta à ideia de que o amor é imanente ao indivíduo, e é resultado da ideia do amor cortês com influência do pensamento católico e filosófico; o amor romântico ideal é aquele vivido pelo casal Labinski que, como duas gotas de orvalho numa folha que, ao escorrer, acabam por se anularem tornando uma só; por outro lado, quando não correspondido, acaba por tornar o indivíduo incompleto, fadado à morte, tal como o de Otávio.[3]
Enredo
A novela narra a troca de corpos entre Otávio de Saville e o conde Olaf Labinski; apaixonado pela esposa deste último, a bela condessa Prascóvia, Otávio definha sem poder ver concretizado seu desejo pela amada.[4]
Através de artifícios do obscuro médico Baltazar Cherbonneu, que se especializara em práticas misteriosas do hinduísmo em pesquisas que o fizeram compreender os mistérios dos avatares de Vishnu, Otávio troca de corpo com o seu rival, na esperança de ver concretizado seu desejo.[4]
A troca, contudo, não produz o efeito esperado: Pracóvia não mais reconhece seu amado esposo, agora possuído pela alma de seu admirador; o verdadeiro conde, revoltado com a troca, desafia o rival a um duelo mas, antes do embate, Otávio desiste de sua tentativa de conquista sobrenatural e lhe propõe uma destroca, indo ambos ao consultório do médico que lhes trocara de corpos.[4]
Durante o procedimento que evocava uma "fórmula de Brahma Logum", Otávio não mais retorna ao seu corpo que, sem a alma, estaria morto; o médico Baltazar, então, vê a chance de voltar à juventude e faz, ele mesmo, a troca de seu corpo por aquele que ainda não perdera os sinais vitais, fazendo morrer o seu próprio.[4]
Excerto
De uma fala do médico Baltazar Cherbonneu:
_Não sou cientista, no sentido que aqui dão a essa palavra. Apenas estudei as potências ocultas, espreito a alma. O espírito é tudo, a matéria não existe, o universo talvez não passe de um sonho de Deus. O senhor já deve ter ouvido falar do espelho mágico, onde Mefistófeles fez o doutor Fausto ver a imagem de Helena. Queira curvar-se sobre essa inocente taça de água, e pense intensamente na pessoa que deseja ver. Viva ou morta, próxima ou distante, ela atenderá ao seu apelo, do outro lado do mundo ou da profundidade da História![4]
Referências
↑Edgar Cavalheiro in: Diaulas Riedel (org.) (1953). Maravilhas do Conto Francês. São Paulo: Cultrix. p. 129