Atavismo

Atavismo (do latim atavus, "ancestral") é o reaparecimento de uma certa característica no organismo depois de várias gerações de ausência. Em biologia, atavismo é uma reminiscência evolutiva, como reaparecimento de traços que estiveram ausentes em várias gerações. Pode ocorrer de várias maneiras. Uma maneira é quando genes para características previamente fenotípicas existentes são preservadas no DNA, e estes tornam-se expressar através de uma mutação que quer nocautear os genes primordiais para os novos traços ou fazer os traços antigos substituírem os atuais. 

Atavismos nos animais

Tubérculo de Darwin numa orelha humana (esquerda), e a estrutura homóloga em Macaca fascicularis (direita).

Embora as galinhas normalmente não tenham dentes, e as aves tenham "perdido" a dentição há cerca de 60 a 80 milhões de anos, os tecidos que normalmente desenvolvem dentes continuam a manter essa capacidade. Geoffrey Saint Hilaire foi o primeiro cientista a descrever a formação de dentes em embriões de galinhas em 1821. Atualmente, é conhecido que os genes responsáveis pela odontogénese estão ainda presentes em galinhas. [1]

Atavismos registrados na literatura
Membros Inferiores Dedos extras Dentes (odontogênese)

Outros exemplos de atavismos incluem:

Atavismos em humanos

Evolutivamente, traços que desapareceram fenotipicamente não necessariamente desapareceram a partir do DNA de um organismo.  A sequência do gene permanece muitas vezes, mas está inativo. Tal gene pode permanecer não utilizado no genoma, durante muitas gerações. Contanto que o gene permaneça intacto, uma falha no controle genético suprime o gene o que pode levar a que seja expresso de novo. Por vezes, a expressão de genes dormentes pode ser induzida por estimulação artificial.

Hipertricose lanuginosa

Até 2015, não se tinha uma prova clara da anormalidade molecular específica. A hipótese mais aceita para explicar o aspecto fenotípico da hipertricose na sua forma mais comum está relacionada com um excesso de estimulação dos folículos capilares por algum gene ancestral suprimido — uma vez que no curso da evolução humana, os genes que causam o crescimento do cabelo foram silenciados.

A possibilidade desta expressão ser um atavismo é o tema de uma discussão científica em andamento.[13][14][15][16][17] Em 2021, uma revisão bibliográfica combinou vários estudos e apontou que essa forma capilar em humanos modernos está associada à, notavelmente, 121 condições genéticas.[18]

Nevo melanocítico congênito gigante.

Nevo melanocítico congênito gigante

Nevo melanocítico congênito (também "nevo peludo gigante") é termo para manchas na pele causadas pelo crescimento excessivo de melanócitos. As manchas geralmente têm diâmetro maior que 20 cm [19][20] e podem estar acompanhadas de excesso de pelos terminais (hipertricose lanuginosa).[21][22][23][24][25][26][27]

Nevos surgem quando, devido a uma mutação genética que ocorre após a formação do embrião, há uma falha no processo de migração dos melanócitos da crista neural para a pele. Em muitos casos, as mutações são encontradas em genes que codificam proteínas NRAS e KRAS[28] e a possibilidade desta expressão ser um atavismo foi sugerida[29][30][31], mas nenhum estudo deu sequência diretamente ao tema.

Outros exemplos relatados

Várias formas de atavismo podem ser observadas em humanos. Principais atavismos observados se expressando na população de humanos modernos:

Casos de atavismos em humanos
Exemplo Fontes
Cauda conectada à coluna que se apresenta como sendo truetail e pseudotail. [32][33][34][35]
Mamilos supranumerários se expressando tanto em machos quanto em fêmeas. [4][36]
Daltonismo, também conhecido como discromatopsia ou discromopsia. [37]
Tubérculo de Darwin formando a ponta da orelha na região denominada hélix. [38]
Coração com um formato que remonta ao órgão dos répteis (ancestrais dos mamíferos) [39]

Atavismos em plantas

O atavismo também pode ser observado em plantas. Em certos casos, as partes aladas do pecíolo são ampliadas, para produzir dois folhetos laterais tornando-o com folhas trifolioladas. A ocorrência desse fenômeno pode ser observada em Rosa, Hibiscus, Oxalis, Poppy e Citrus. Vários fatores podem influenciar na ocorrência do atavismo em plantas, De Vries (1906) fala sobre:

"A produção de variedades e de folhas atávicas depende em alto grau de condições externas. Ela adere com a regra geral que, as situações favoráveis reforçam as distinções das variedades, enquanto as condições desfavoráveis aumentam o número de peças com propriedade atávica. Estas influências, podem serem vistas como tendo seu efeito sobre os indivíduos isolados, bem como sobre as gerações de crescimento da sua descendência."[40]

Atavismo no gênero Citrus

Um exemplo de atavismo em vegetais pode ocorrer no gênero Citrus, onde o pecíolo da folha é ampliado. Nesses casos de atavismo, o pecíolo amplia-se para produzir os dois folhetos laterais, mostrando características ancestrais que as folhas dos Citrus tinham. As folhas dos Citrus eram trifolioladas, mas durante a evolução dois folhetos se degeneraram. A espécie cítrica Citrus trifoliata, preserva ainda dois folhetos laterais, uma característica de suas ancestrais.[41][42][43]

Atavismo no gênero Hibiscus

O atavismo também pode ser observado no gênero Hibiscus,[41] onde as partes aladas da folha são ampliadas. Nesses casos de atavismo, o lóbulo da folha é ampliado tentando formar dois recortes laterais, para produzir os dois lóbulos, mostrando características ancestrais que as folhas dos Hibiscus tinham e ainda têm. As folhas simples dos hibiscos que no passado possuíam o formato trilobado (3 lóbulos) tiveram seus lóbulos degenerados durante a evolução. Algumas espécies de hibiscos como a Hibiscus sabdariffa possuem ainda os seus dois lóbulos preservados.

Atavismo táxico

Atavismo táxico ou reversão evolutiva ocorre quando o ser vivo sofre uma reversão evolutiva (reversão filogenética de um caráter – uma homoplasia no jargão da Sistemática Filogenética) que atinge todo um táxon (todos indivíduos) e permanece fixo desde então[3]. Exemplos de Atavismo táxico:

Referências

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Ligações externas