Conhecem-se cerca de 60 espécies de Arctostaphylos, variando desde as espécies de regiões árticas, costeiras e montanhosas que são arbustos rastejantes, a pequenas árvores de até 6 m de altura. A vasta maioria é perene (apenas se conhece uma espécie decídua), com pequenas folhas ovais de 1–7 cm de comprimento, dispostas em espiral nas hastes. As flores são em forma de sino, brancas ou rosa-pálido, agrupadas em pequenos cachos de 2–20 flores; a floração é na primavera. Os frutos são bagas pequenas, que amadurecem no verão ou no outono. As bagas de algumas espécies são comestíveis.
As partes da planta acima do solo podem ter tricomas multicelulares.[7] Os ramos são prostrados ou erectos.[3] Dependendo da espécie, o ritidoma é avermelhado, relativamente fino, descascando com facilidade. Nas espécies Arctostaphylos morroensis, Arctostaphylos nissenana, Arctostaphylos nummularia, Arctostaphylos osoensis, Arctostaphylos pajaroensis, Arctostaphylos rudis, Arctostaphylos tomentosa, o ritidoma é resistente, de coloração acinzentada, áspero, apresentando-se em geral recoberto de fissuras.[3] A casca dos ramos mais jovens é glabra (embora possa nalguns casos ser ligeiramente tomentosa), por vezes com indumento glandular.[4] Dependendo da espécie, os membros do género Arctostaphylos sobrevivem a incêndios florestais, embora muitas das espécies não tenham essa resistência e morram no processo (veja em Ecologia).[4]
Folhas
As folhas tem distribuição alternada,[3] geralmente com uma filotaxia pouco densa, por vezes eretas, divididas, geralmente com pecíolo curto e lâmina foliar bem distinta (em algumas espécies o pecíolo não é distinto). Nas poucas espécies em que o pecíolo é relativamente curto, a filotaxia é mais densa, ocorrendo folhas sobrepostas. As folhas são na sua maioria isofaciais (ambas as faces iguais), às vezes bifaciais (faces foliares diferentes), em relação ao arranjo dos estômatos, cor e pilosidade (tricomas).[4] As lâminas foliares são simples, coriáceas,[4] planas a convexas,[3] ovadas a elípticas. A margem da folha é quase inteira ou finamente dentada (por exemplo, em Arctostaphylos pacifica), raramente ciliada. A folha é quase sempre plana, raramente dobrada para trás. A superfície foliar é lisa a papilosa (podendo contudo ser áspera), podendo ser glabra ou ligeiramente pilosa.[4]
Flores e inflorescências
Na maioria das espécies, as inflorescências persistem por quatro a seis meses, do final da primavera ao inverno, ou mesmo até o início da floração do ano seguinte (é diferente em Arctostaphylos pringlei subsp. drupacea).[3] Tanto em inflorescências terminais simples como em inflorescências racemosas ou ramificados, assim como nos casos em que são panículas em que os ramos formam uma estrutura semelhante a um cacho de uvas, o número de flores é geralmente de 5 a 20, raramente até 50, implantadas mais ou menos densamente. As brácteas de coloração cremosa a castanho-claro são geralmente persistentes (em Arctostaphylos pringlei caem após a ântese), escamosas, triangulares ou ovais, por vezes quilhadas ou em forma de folha, estreitamente lanceoladas e planas.[3][4]
As brácteas florais são muito mais curtas que as sépalas e no estágio de botão floral estão geralmente sobrepostas de maneira imbricada, mas às vezes tem inserção ampla e não se sobrepõem. Após a antese as brácteas caem e nunca estão presentes nos géneros Arctostaphylos e Arctous, embora estejam presentes nos demais géneros da subfamília Arbutoideae.[4][7]
As flores são hermafroditas, actinomórficas (ou seja, com simetria radial) e pentâmeras (em Arctostaphylos nummularia e em Arctostaphylos sensitiva são tetrâmeras), com um duplo perianto. Na maioria das flores ocorrem cinco sépalas (em Arctostaphylos nummularia e Arctostaphylos sensitiva são quatro) livres e persistentes,[3] de ovais a triangulares.[4] As pétalas são, na maioria dos casos, cinco (em Arctostaphylos nummularia e Arctostaphylos sensitiva apenas quatro), fundidos quase ao longo de todo o seu comprimento para formar uma corola cónica ou em forma de urna, que cai cedo, que na maioria das espécies apresenta cinco, raramente quatro, lóbulos curtos. A cor das pétalas varia do branco ao rosa.[3][4]
As flores apresentam um disco nectarífero intrastaminal. As flores apresentam dois verticilos, cada um com 5 (raramente 4) estames livres e férteis que não se projetam além da corola. Os estames livres e alargados são geralmente pilosos na base.[3][4] Cada antera, que é em geral de coloração vermelho-escuro, apresenta dois filetes, na maior parte dos casos reflexos e filamentosos, abrindo no topo por um poro.
Quando maduras, as drupas globulares ou globulares recortadas são vermelhas, castanho-avermelhadas ou castanhas. O exocarpo é coriáceo, raramente fino e liso. O mesocarpo é geralmente seco, farinhento, raramente ausente. O endocarpo contém várias sementes. Os caroços são de um a dez, podendo ser maiores que a parte externa do fruto. Cada fruto contém 1-10 sementes, livres ou agrupadas em pares ou trios ao longo das superfícies radiais do endocarpo pétreo, às vezes fundidas numa única esfera. As sementes são por vezes triangular-ovadas.[4]
Das aproximadamente 66 espécies que integram este género, 62 são encontradas na América do Norte.[3][4] A área de distribuição natural destas espécies estende-se da região setentrional da América do Norte através do México até a América Central. Apenas algumas espécies ocorrem na Eurásia.[4] Nenhuma espécie tem distribuição natural nos outros continentes. Na Europa Central apenas são nativas as espécies Arctostaphylos uva-ursi e Arctostaphylos alpina.[10][8]
Quase todas as espécies de Arctostaphylos são provenientes da Província Floral da Califórnia, com uma distribuição que se estende do sul do Oregon através do norte da Baja California até ao México. O Centro de diversidade, ou seja o foco principal da diversidade, do género Arctostaphylos situa-se ao longo da costa central da Califórnia, onde se ocorre cerca de metade de todas as espécies.[4]
Ao longo da costa central da Califórnia, a maioria das espécies de Arctostaphylos ocorrem em formações de vegetação que são fortemente influenciadas pelas névoas de verão. O efeito desse de clima aplica-se às espécies que ocorrem nas formações costeiras de chaparral. As espécies do géneros também ocorrem nos bordos de florestas ou em bosques, por exemplo, em associação com o pinheiro da espécie Pinus muricata. Espécies de Arctostaphylos não encontradas na área da Costa do Pacífico prosperam nas margens do deserto em bosques e florestas de chaparral.[4]
Ecologia
As espécies do género Arctostaphylos, tal como as coníferas e outras espécies arbóreas que desenvolvem ectomicorrizas, que ocorrem nas áreas de vegetação do tipo chaparral formam uma comunidade dotada de micorrizas fúngicas] com elevada biodiversidade. O desenvolvimento de comunidades micorrízicas fúngicas com as árvores e arbustos e os eventos relativamente comuns de fogo florestal são as principais causas que limitam a distribuição do género Arctostaphylos.
Cerca de um terço das espécies de Arctostaphylos tem uma estrutura lenhosa espessa na base do caule onde ocorrem a formação de gemas dormentes ou alternativamente apresentam nódulos de crescimento nos caules rastejantes nas áreas de enraizamento. Em ambas as adaptações morfológicas, após um incêndio florestal, quando a copa for destruída, ocorre um novo crescimento a partir dessas estruturas meristemáticas. Nas outras espécies, os incêndios florestais destroem todo o espécime e as populações são regeneradas a partir do banco de sementes presente no solo.[4]
A maioria das espécies de Arctostaphylos prefere solos pobres em nutrientes e ácidos, geralmente pedregosos.[4]
O cultivo das espécies do género Arctostaphylos é geralmente difícil devido a doenças fúngicas, e muitas vezes à salinidade e alcalinidade do solo. A rega aérea deve ser evitada em climas quentes. Alguns cultivars são mais fáceis de cultivar do que outros.
Usos medicinais
Os primeiros registos conhecidos de usos medicinais de espécies deste género remontam a um herbário gaulês do século XIII que refere a uva-de-urso. Na atualidade, algumas espécies são usadas em homeopatia para tratamentos de [[medicina alternativa, fazendo parte da farmacopeia de muitos países. No século XIX, era citada a uva de urso, ou Arctostaphylos uva-ursi, então conhecida pelo nome científico de Arbustus uva ursi, nome pelo qual a espécie aparece classificada no Green`s Universal Herbal.[12]
O nome genéricoArctostaphylos deriva dos vocábulos do grego clássicoarktos «urso» e staphyle «uva» e é uma referência ao nome comum na generalidade das línguas europeias da espécie tipo do género, a espécie Arctostaphylos uva-ursi.[4][3] Muitas das espécies de Arctostaphylos que ocorrem na América do Norte e na América Central são conhecidas pelo nome comum de manzanita, designação que é aplicada de forma generalizada ao género. Algumas espécies recebem nomes mais específicos como green-manzanita para A. patula, baker-manzanita para A. bakeriana. O nome comum foi adoptado como epíteto específico para a espécie Arctostaphylos manzanita.[4]
Veja também o género intimamente relacionado Comarostaphylis, antes frequentemente incluído em Arctostaphylos. Na sua presente circunscrição taxonómica o género Arctostaphylos agrupa 66 espécies:[4][3]As seguintes espécies são reconhecidas no género Arctostaphylos:[17]
↑ abManfred A. Fischer, Wolfgang Adler, Karl Oswald: Exkursionsflora für Österreich, Liechtenstein und Südtirol. 2., verbesserte und erweiterte Auflage. Land Oberösterreich, Biologiezentrum der Oberösterreichischen Landesmuseen, Linz 2005, ISBN 3-85474-140-5.
↑ Siegmund Seybold (editor): Schmeil-Fitschen interaktiv. CD-ROM, Version 1.1, Quelle & Meyer, Wiebelsheim 2002, ISBN 3-494-01327-6.
↑Angiosperm Fruits and Seeds from the Middle Miocene of Jutland (Denmark) by Else Marie Friis, The Royal Danish Academy of Sciences and Letters 24:3, 1985
Richard J. Vogl, Paul Schorr: Fire and manzanita chaparral in the San Jacinto Mountains, California. In: Ecology, Volume 53, Nr. 6, 1972, S. 1179–1188. Hinweis: Als Manzanita bezeichnet, wurde Arctostaphylos glandulosa. JSTOR1935432