Seu trabalho é fortemente ligado à renovação estética, política e cênica do teatro brasileiro surgido nos anos 1960 e 1970, sobretudo com Macunaíma (1978), montagem que tornou-se referência para a geração dos anos 80.[2] Com este espetáculo, Antunes Filho torna-se "o primeiro diretor a empreender uma obra dramatúrgica e cenicamente autoral."[2]
Nessa época, Antunes monta o Centro de Pesquisa Teatral (CPT), hoje residido no Sesc Consolação, na cidade de São Paulo, onde desde então formou diversas gerações de atores com metodologia e técnica próprias, até seus últimos dias de vida, tendo falecido aos 89 anos de idade e deixado uma trajetória e legado de mais de 60 anos de dedicação integral ao teatro.
Iniciou a carreira dirigindo grupos amadores. Montou peças para a série Tele-Teatro, como O Urso, de Anton Tchecov em 1950. Depois foi convidado por Décio de Almeida Prado para trabalhar como assistente de direção no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).
Trabalhou com o grande diretor Zbigniew Ziembiński, com quem aprendeu a disciplina e a técnica.
Em 1953, estreou como diretor, com a peça Week-End, de Noël Coward. Em 1958, dirigiu O Diário de Anne Frank, de Frances Goodrich e Albert Hackett, um de seus grandes sucessos.
Foi, por décadas, diretor do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), criado em 1982, onde formou gerações de atores e montou peças como A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1986), Paraíso Zona Norte (1990), Novas e Velhas Estórias (1991), Macbeth – O Trono de Sangue (1992), Gilgamesh (1995) e Drácula e outros Vampiros (1996).
Em 1998, apresentou a evolução na pesquisa do ator com Prêt-à-Porter, uma série de espetáculos formados por peças curtas, escritas e dirigidas pelos próprios atores, através dos procedimentos desenvolvidos na busca de novos horizontes do teatro. Este núcleo revelou as atrizes Sabrina Greve, Arieta Corrêa e o ator Luiz Päetow.[4] Por este projeto, a Casa das Américas premiou o CPT com o Gallo de Habana, honraria só concedida a instituições que tenham contribuído com relevância para a evolução estética do teatro na América Latina.
Em 1999, montou a tragédia grega com o grupo Macunaíma, do CPT: Fragmentos Troianos (1999), adaptação de As Troianas, de Eurípedes. Esse espetáculo foi também apresentado no Festival de Istambul, na Turquia.
Em 2001 e 2002, apresentou duas versões para a tragédia Medeia, de Eurípides.
Em 2004, dirigiu a peça O Canto de Gregório, apresentando o autor Paulo Santoro.
Voltou à tragédia em 2005, com sua adaptação para Antígona, de Sófocles.
Dirigiu para cinema apenas uma vez, com o filme Compasso de Espera, um drama sobre racismo e protagonizado por Zózimo Bulbul e Stênio Garcia, esse seu ator predileto.
Em 2006, recebeu o Prêmio Bravo! de Melhor Espetáculo Teatral do Ano pela peça A Pedra do Reino (2006).
Em 2021, sua peça inédita Sodoma & Gomorra é dirigida pelo ator e dramaturgo Luiz Päetow.[5]
Personalidade
No final do livro Antunes Filho e a Dimensão Utópica, o crítico Sebastião Milaré escreve: "É estranho que esse homem tão apaixonado pela arte, pela vida, tenha granjeado ao longo do seu caminho tantos desafetos”. Durante muito tempo, conforme explicou Jefferson Del Rios num debate em 2010 no qual o diretor estava presente, Antunes Filho conquistou a fama de "tirano" e "autoritário" por conta de sua personalidade inquieta e por seu método teatral explosivo e direto.[6]
Em entrevista para o Roda Viva da TV Cultura em 1989, Antunes Filho disse: "Eu já fui considerado até tirânico, autoritário. Eu acho que, no teatro, é necessário que as pessoas tenham muita disciplina. A infra-estrutura do teatro não é dinheiro, não é nada disso. A infra-estrutura é conhecimento, é autodisciplina, mas isso é mais velho que minha avó. É fundamental que as pessoas que façam qualquer tipo de manifestação criativa tenham consigo - e com as pessoas que querem também fazer o mesmo projeto - muita fé e muita disciplina, porque com muita disciplina a gente se equivoca bastante. Agora, no tempo que me chamavam de tirânico eu até era um pouco, sim. Eu acho que era devido aos tempos ruins que a gente se acostuma àquilo, a gente é condicionado a..."[7]
Em 2010, em entrevista para a Folha, declarou: "Não acabou a chamada 'era dos diretores'. O que acabou foi a era do diretor tirano. Agora, é a época do diretor que procura cooperação. Antigamente, a expressão que se usava era que as coisas vinham do Céu para a Terra. Ao umbigo do mundo, através das catedrais, se instaurava no mundo o Dharma. Agora não tem mais o Dharma. Agora é a troca."[8]