Nasceu em Porto Alegre em 1828, onde fez seus primeiros estudos artísticos com grandes esforços, uma vez que provinha de família pobre. Decidido a desenvolver uma carreira, partiu em 1845 para o Rio de Janeiro, amparado por uma subvenção do governo estadual, a fim de ingressar na Academia Imperial de Belas Artes.[1]
Lá se revelou um aluno brilhante, obtendo a Grande Medalha de Ouro por duas vezes e uma Grande Medalha de Prata, além de diversas menções honrosas, incluindo uma segunda colocação, em 1851, na relação de artistas exemplares, logo atrás de Victor Meirelles. Diplomou-se como pintor histórico em 6 de março de 1854, provavelmente passando a se dedicar ao ofício, embora até seu retorno à capital gaúcha haja em verdade escassas referências sobre sua atuação.[1]
Voltando, pois, ao Rio Grande em 1870, foi recebido com grandes elogios pela imprensa local, e instalou um atelier na Praça da Alfândega, onde produzia telas e desenhos e dava aulas. Em 1871 realizou um retrato do general Bento Martins que recebeu aplauso generalizado, que se repetiu no ano seguinte com uma cena regionalista.[1]
Em 1875 participou com grande sucesso na seção de arte da Grande Exposição Industrial e Comercial, expondo dez trabalhos próprios além de obras de alunos seus. A partir deste evento sua posição se consolidou, e sua freguesia se ampliou consideravelmente, passando a receber numerosas encomendas sobretudo de retratos, tanto em pintura como em desenho, dentre os quais dois de Gaspar da Silveira Martins e outros dois do Visconde de Rio Grande, além de diversos outros de importantes personalidades locais e estaduais.[1]
Como as encomendas se multiplicassem, em 1883 chegou a adoecer por excesso de trabalho, abandonando as atividades artísticas até meados do ano seguinte, quando retomou a carreira com o bom êxito que já lhe era familiar, produzindo retratos do Visconde de Pelotas, do Imperador Dom Pedro II, do Duque de Caxias, do general José Gomes Portinho e outras figuras insignes, além de muitos outros para a elite local. Entre 1888 e 1891, por razão desconhecida, ocorre um novo hiato em sua trajetória, do qual ressurgiria com forças renovadas e produzindo uma grande quantidade de trabalhos, dos quais se destacam os retratos do Visconde de Pelotas e o de Dom Sebastião Dias Laranjeira.[1]
No final do século, com a crescente concorrência que a fotografia trouxe para a retratística tradicional, começou a perder terreno, as encomendas diminuíram, e encontrou-se à beira da pobreza após uma vida de glórias. De acordo com Athos Damasceno, acometido de crescente fraqueza e várias doenças, tornou-se arredio e de trato difícil, retirando-se do convívio social que antes entretera assiduamente, e sua habilidade com os pincéis decaía a olhos vistos. Vivia nesta época de vender alguns quadros da sua fase áurea, que havia preservado em sua coleção pessoal, e da ajuda do intendente José Montaury, que o socorreu muitas vezes em suas necessidades. Em 1901 ainda participou da Grande Exposição Comercial e Industrial, mas as duas telas que apresentou na Seção de Artes passaram ignoradas pelo público e pela crítica.[1]
A partir daí sua vida entrou em franco declínio. Ainda pintava um pouco para seu deleite pessoal, mas seu espírito já estava alquebrado e perturbado. Suas últimas exposições ocorreram em 1906, apresentando uma tela representando a chegada da canhoneira Pátria e um retrato em desenho do general Joca Tavares, que receberam notas simpáticas na imprensa, mas foram vistos por escasso público. Depois de anos de sofrimentos, foi internado na Santa Casa, e ali veio a falecer em 5 de agosto de 1908. Vários obituários trataram de seu desaparecimento, mas foram breves e pouco entusiásticos.[1] Hoje seu nome batiza uma praça em Porto Alegre. Neiva Bohns deixou uma apreciação de sua carreira:
"Antônio Cândido de Menezes testemunha o fim do Antigo Regime e o início da República, todo o conjunto de transformações que trazem o bafejo da modernidade. Também é um exemplo claro da disputa interna do campo artístico, que contrapõe, de maneira impiedosa, as novas gerações às velhas gerações. Os valores neoclássicos, que tão diligentemente aprendera, começam a entrar em colapso, e, apesar de não se ter notícias de práticas pictóricas revolucionárias no Rio Grande do Sul, a efervescência do ambiente artístico europeu mais progressista já se fazia sentir nos pagos. Como consequência da mudança de gosto e do interesse despertados pelas novidades envolvendo novas tecnologias de fabricação de imagens, sua clientela diminui sensivelmente e sua condição social piora cada vez mais. [...] O alvorecer do novo século o encontra doente, cansado, ignorado e até desprezado, tanto pela imprensa que antes o louvara, quanto pelo público".[2]
Referências
↑ abcdefgDamasceno, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1971, pp. 118-128
↑Bohns, Neiva Maria Fonseca. Continente Improvável: artes visuais no Rio Grande do Sul do final do século XIX a meados do século XX. Tese de Doutorado. UFRGS, 2005, pp. 59-60