Suponha agora que sejam dois tais anéis mágicos, e o justo põe um deles e o injusto o outro; nenhum homem pode ser imaginado como sendo de tal
natureza ferrenha que permanecesse sustentado na justiça. Nenhum homem poderia manter suas mãos longe do que não fosse seu quando ele pudesse, com
segurança, tomar o que quisesse do mercado, ou entrar em casas e deitar-se com qualquer um a seu bel-prazer, ou matar ou libertar da
prisão os que ele quisesse, e em todos os aspectos ser como um
deus entre os homens.
Então as ações do justo seriam como as ações do injusto; eles chegariam finalmente ao mesmo ponto. E isto nós podemos verdadeiramente afirmar ser uma grande prova de que um homem é justo, não por sua vontade ou porque ele acha que a justiça é algum bem para si individualmente, mas por necessidade, pois onde quer que qualquer um pense que se pode ser injusto com segurança, lá ele é injusto.
Para todos os homens que creem em seus
corações que a injustiça é deveras mais proveitosa ao indivíduo que a justiça, aquele que argumenta como eu fui supondo, dirá que eles estão certos. Se tu puderes imaginar alguém obtendo este poder de se tornar invisível, e nunca fizer nada errado ou tocar o que era de outrem, esse seria considerado pelos observadores como o mais miserável idiota, ainda que eles o
elogiassem um para o outro, e mantivessem as
aparências uns com os outros pelo medo de que eles também possam sofrer injustiça.