Artista plástico, nascido na Alemanha, em 1957, aí viveu até a mãe se mudar com ele para Angola, onde trabalhava o pai, na instalação dos caminhos-de-ferro; até 1962, viveu em Luanda.
Regressado à Alemanha, formou-se em escultura e pintura, de 1977 a 1982, na Academia de Belas Artes de Düsseldorf;[1] nesse último ano, no âmbito de duas viagens escolares de alguns meses, fez pesquisa sobre Land Art na serra da Arrábida e aí se exercitou na pintura explorando materiais naturais.
No ano seguinte, inicia-se na aprendizagem de técnicas de azulejaria e estabelece-se em Portugal. Trabalha em restauro e reprodução de azulejo tradicional em Lisboa, na empresa Azularte.
A par da execução de trabalhos de restauro – de que são exemplo os desenvolvidos nos jardins do Palácio de Queluz (primeiro trabalho), na igreja de Santa Maria do castelo de Sesimbra ou nas igrejas dos Cardaes e de Marvila -, explora as suas próprias formas de expressão através da arte azulejar, numa perspectiva contemporânea e conceptual, dominando materiais, cores, figurações, texturas, cores e ornamentação. Em 2005, numa entrevista à RTP afirma «gosto de adequar os materiais que uso àquilo que quero transmitir (…) o material tem peso na comunicação».[2]
1984 foi o ano de integrar uma exposição colectiva na Galeria Metrópole, em Lisboa; realizou uma exposição individual - Luz exterior - no Círculo Cultural de Setúbal e uma intervenção escultórica na praia de Odeceixe.[3]
Participou na V Bienal de Vila Nova de Cerveira, em 1986.
Em 1987, criou, na praia de Odeceixe, o marcante projecto temporário Membrana — Da Transparência do Solo, «uma estrutura construída em madeira, de 30 m de diâmetro, em forma de espelho parabólico, mas que aparenta ter o seu ponto focal no subsolo»,[4] que integrava instalações e objectos em azulejo no subsolo. A intervenção artística, que demorou 2 anos a concretizar, foi habitada por pessoas que iam à praia e foi criada com o fim de alterar os caminhos das pessoas que por aí circulavam.
Em 1988, instala o seu atelier na Quinta do Vale da Rosa, perto de Setúbal e cria obras de pintura e cerâmica.
A partir de 1990, passa a ser representado pela Galeria Ratton, e aí realiza a sua marcante exposição individual, nesse mesmo ano, Do Barroco à Subversão, na qual é clara a sua opção pela reinvenção do azulejo. Destacou do barroco, por exemplo, os querubins, recriados em diversos tondo. É artista residente da galeria, com a qual manteve forte vínculo, e onde expôs com regularidade e realizou projectos para diversas instituições privadas e públicas.
Nesse ano realiza outra exposição na galeria de exposições temporárias do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, intitulada Do azulejo... ao azulejo - Andreas Stöcklein, de 20 de Janeiro a 18 de Fevereiro; acerca esta iniciativa José Meco escreveu: «larga e diversificada amostragem de azulejos, desde os de aspecto mais tradicional e que absorveram maior número de motivos do passado, nomeadamente as diversas fontes (uma especialmente complexa e monumental), e outros adereços arquitectónicos, no início da galeria, até ao fundo, onde as criações mais ousadas, como as composições circulares e quadradas, de fundos marmoreados com citações pós-modernas de formas barrocas, formavam uma cenografia deslumbrante, criando um envolvimento bastante coerente, que incluía uma instalação, no pavimento.[5]» O mesmo historiador de arte, a propósito destas duas exposições de 1990, afirma: «Estamos na presença de um artista muito jovem, cuja obra se encontra no início, mas que poderá alcançar uma importância e originalidade cada vez mais acentuadas se continuar a desenvolver a sua manaira pessoal de sentir o azulejo que estas exposições já revelam.» e «As sugestões neo-barrocas, a ironia e a função arquitectónica são talvez os aspectos fundamentais destas criações.[6]»
Dois anos depois, desenvolveu um projecto na Alemanha que «culmina com a apresentação da exposição 3,1416º K, Artcore, em Monchengladbach.»[7]
Em 1996, expôs na Galeria COGITO na Feira de Arte Contemporânea Fórum '96, ao lado de Luiza Perienes, Carlos Dutra, Lázaro Lozano, entre outros.[8]
2022 - Prémio SOS Azulejo ‘Obra de vida’[9][10][11]
2001 - Prémio Jorge Colaço de Azulejaria da cidade de Lisboa, com a Galeria Ratton[10]
2017 - Prémio SOS Azulejo de melhor obra artística pela obra no Túnel do Quebedo em Setúbal[10]
Obras
Diversas obras na sua carreira, sobretudo em azulejo – em arte pública e em imóveis privados -, mas também em instalação, tela e desenho a carvão e tinta da China, merecem destaque:
o mural «Quadro Estações», no Largo da Boavista, em Palmela, de 1989, com um «efeito ilusório de trompe l’oeil, tão apreciado pelo espírito barroco[12]»;
três painéis azulejares As estruturas virtuais do silêncio para o edifício Embaixador (Lisboa), do arquitecto Armando Fernandes;[13]
o interior da Cervejaria Ribadouro, em Lisboa, datado de 1993;
a intervenção «A justiça é cega» na Faculdade de Direito de Lisboa, de 1999/2000;
em Alfragide, o painel para o altar-mor da Igreja da Divina Misericórdia,[14] de 2010;
os painéis na estação ferroviária de Campolide (Lisboa), em 1999;
a estação de Metro Rathaus em Essen (Alemanha) de 2014–2016, processo de criação e execução/produção demorado e exaustivo;[15]
túnel do Quebedo,[16] em Setúbal, obra na qual se homenageiam José Afonso, Luiz Pacheco, Manoel Barbosa du Bocage, Sebastião da Gama e Vasco Mouzinho de Quevedo.
Acerca da obra para a Estação de Campolide, onde se encontra um Ícaro contemporâneo, Stöcklein afirmou que o tema era a «viagem sem fim» e «O que eu queria era tornar esse “não-lugar” num lugar, torná-lo num espaço identificável, e penso que isso vai acontecer com o tempo. (…) O meu objetivo era partir de um espaço despersonalizado e dar-lhe um pouco mais de cor, ou melhor, dar-lhe um carácter lúdico.[17]»
Em 2023, os 40 anos de presença do artista em Portugal, foram comemorados com duas exposições: a Sobre a Linha do Horizonte – Andreas Stöcklein na Colecção Ratton no Museu Nacional do Azulejo e, na Galeria Ratton, a exposição O Outro Lugar. Conversas Interiores.
Andreas Stöcklein morreu em Lisboa, Portugal, a 13 de Julho de 2024. Era doutorando no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.[18]
Referências
↑MECO, José (1990). Andreas Stöcklein: Do Barroco à subversão (desdobrável). Lisboa: Galeria Ratton
↑Jorge Sampaio, Luís Braga da Cruz, Narciso Miranda, Francisco Faria Paulino (1996). Feira de Arte Contemporânea - FAC'96 : Forum Atlântico de Arte Contemporânea - Forum'96. Matosinhos: Câmara Municipal de Matosinhos. p. 86. ISBN972-97171-0-9 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑ARTIS – Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Az – Rede de Investigação em Azulejo | (8 de Novembro de 2023). «AzLab#89 | Podcast | Andreas Stöcklein». Consultado em 21 de Julho de 2024
↑FERNANDES, Francisco Vaz (2000). Sem margens : intervenções plásticas nas estações da travessia ferroviária Norte-Sul. Lisboa: Rede Ferroviária Nacional, REFER EP. pp. 127–128. ISBN972-98557-1-4
↑PARENTE, Catarina, NOGUEIRA; Cristiana (2022). Motel Coimbra N.5. Coimbra: Colégio das Artes Universidade de Coimbra. p. 17-19. ISBN978-989-54713-5-5
Bibliografia
CABRAL, Rosa Coutinho in Homeless MonaLisa, Revista do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra (consultado a 21 de Julho de 2024)
FERNANDES, Armando, STÖCKLEIN, Andreas (1997). «Edifício Embaixador». Lisboa. Jornal de Arquitectos. ISSN 0870-1504 (N. 176-177): 27
FERNANDES, Francisco Vaz (2000). Sem margens: intervenções plásticas nas estações da travessia ferroviária Norte-Sul. Lisboa: Rede Ferroviária Nacional, REFER EP.
Jorge Sampaio, Luís Braga da Cruz, Narciso Miranda, Francisco Faria Paulino (1996). Feira de Arte Contemporânea - FAC'96 : Forum Atlântico de Arte Contemporânea - Forum'96. Matosinhos: Câmara Municipal de Matosinhos
MECO, José (1990). Andreas Stöcklein: Do Barroco à subversão (desdobrável da exposição), Lisboa: Galeria Ratton
MECO, José - Andreas Stöcklein: entre Setúbal e a Ratton, in Artes Plásticas, Lisboa – A.1, N.1. (Julho 1990), p. 55
PEREIRA, Fernando António Baptista - «Do lugar e dos espaços. Uma reflexão sobre os azulejos de Andreas Stöcklein», in O Quadrado é Branco – Azulejos (desdobrável da exposição), Lisboa: Galeria Ratton Cerâmicas, 2000
SERRÃO, Vítor; MECO, José (2007) - Palmela Histórico-Artística. Um inventário do Património concelhio, Palmela/Lisboa: C.M. Palmela/Ed. Colibri ISBN 978-972-772-765-0