André Gonçalves (Lisboa, 1685 - Lisboa, 1762) foi um pintor português. Foi o responsável pela mudança estética que se operou em Portugal no início do século XVIII, e que consistiu num abandono dos esquemas hispânicos do seiscentismo e na adopção dos esquemas italiano e francês, mais ricos e variados, já a caminho de uma plena afirmação do Barroco. Uma das grandes características do seu corpus artístico, além da introdução de uma paleta clara, é o facto de recorrer frequentemente ao uso de gravuras estrangeiras.[carece de fontes?]
Com dezasseis anos iniciou a sua aprendizagem artística na Oficina de António de Oliveira Bernardes (1662-1732), onde viveu de 1701 a 1704. Este aprendizado surtirá reflectido nas primeiras produções ainda apegadas ao naturalismo e tenebrismo do primeiro barroco seiscentista, sob influência de modelos gravados ítalo-flamengos a partir de obras de Rubens e Barocci.[1]
Em 1711 ingressa na Irmandade de São Lucas, onde desempenhou cargos ativos ao serviço da confraria até bem perto da sua morte, em 1754. Por esta altura pintou e assinou a pintura representando Santo Amaro salva o mestre-de-obras do Mosteiro da Conomância, do arcaz da sacristia da Ermida de Santo Amaro, em Lisboa.
Nos primeiros anos da década de 1730 participa na obra do Convento de Mafra, ao lado de nomes nacionais como Inácio de Oliveira Bernardes e Vieira Lusitano, a par do contacto com as obras de artistas italianos e franceses cujo influxo das obras do barroco italiano se notará no recurso às fontes imagéticas italianas, nas tonalidades claras e brilhantes, delicadeza no desenho elegante sob o signo do belo clássico.
Logo em 1731 intervém na empreitada decorativa do convento dos Paulistas, ao lado de Vieira Lusitano, para onde pinta seis telas da capela-mor dedicadas ao Ciclo Eucarístico, e as doze telas do cadeiral do coro alto com a Vida de São Paulo Eremita.
No quarto decénio de Setecentos participa na campanha pictórica do coro alto do convento da Madre de Deus. Vítor Serrão apurou duas telas de André Gonçalves executadas cerca de 1744 para a capela do Sagrado Coração de Jesus da Igreja Matriz de Santa Cruz da Graciosa, nos Açores, representando São Domingos, uma e São José, outra.
Volvidos quatro anos a esta parte, André Gonçalves esteve envolvido em importante empreitada decorativa para o Convento das Trinas do Mocambo, em Lisboa, para onde pintou dois ciclos pictóricos revelados por João Miguel Simões. Um dedicado à Vida de São João da Mata e São Félix de Valois, na nave da igreja, e o ciclo da Vida da Virgem para o coro baixo.[3]
André Gonçalves dedicou-se na década de 50 de 1700 a pintar a série da Vida de José do Egipto para a sacristia do Convento da Madre de Deus na mesma cidade, pintando em 1759 a Assunção de Nossa Senhora para a empena da capela-mor.
Da mesma década desenvolveu intensa produção para os procedentes de Coimbra, respondendo a encomendas para o Convento de Santa Cruz de Coimbra e para a igreja do colégio da Sapiência, atualmente na posse da Misericórdia de Coimbra.
No ano de 1761 executa dezasseis pinturas que integravam oito bandeiras processionais com dupla face, para a Misericórdia de Lisboa, representando Anjos e o ciclo da Paixão de Cristo, actualmente na sacristia da igreja de S. Roque em Lisboa.
Nuno Saldanha, "André Gonçalves - Pintor e Mestre da Época Clássica (1685-1762) ", Artes Plásticas, nº 6, Lisboa, Dez.1990.
Nuno Saldanha, "A Vida de José do Egipto de André Gonçalves - Iconografia, Paisagem e Ideia de Natureza", Lisboa, 1991.
Nuno Saldanha, “André Gonçalves”, In Joanni V Magnifico - A Pintura em Portugal ao tempo de D. João V (1706-1750), Lisboa, IPPAR, 1994.
Nuno Saldanha, Artistas, Imagens e Ideias na Pintura do Século XVIII. Estudos de Iconografia, Prática e Teoria Artística, Lisboa, Livros Horizonte, 1995.
José Alberto Gomes Machado, André Gonçalves - Pintura do Barroco Português, Editorial Estampa, 1996
Susana Cavaleiro Ferreira Nobre Gonçalves, André Gonçalves e a Pintura de Cavalete em Portugal no tempo de D. João V (1706-1750). O caminho da Internacionalização [Dissertação de Mestrado em Arte, Património e Restauro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa], 2002
Susana Patrícia Correia Isidro, O "Laboratório" de André Gonçalves e os programas de pintura do Barroco Quinto-Joanino [Dissertação de Mestrado em Arte, Património e Restauro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa], 2015