Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia (1999)
Prémio de Poesia Hanibal Lucic Sonnet Days (2003)
Prémio de Consagração da Associação Portuguesa de Críticos Literários (2003)
Prémio Femina por mérito na Literatura (2015)
Nasceu no Porto em 1929, tendo-lhe sido dado o nome de Maria de Lourdes Rocha Alves; filha de Jaime Constantino Alves, de 27 anos, solteiro, natural de Bragança, e de Celeste Rocha Pereira, de 24 anos, divorciada, natural de Viana do Castelo, moradores à época na rua do Bonjardim, 632, Porto. Na sua genealogia existe um antepassado austríaco, razão da sua aparência germânica.[3] Os seus pais morreram quando era criança, tendo sido educada pela avó materna, Maria da Hora da Rocha Pereira.[4] A avó, muito tradicional e católica, era cinéfila e desde cedo levava a neta a todas as sessões de cinema. Hatherly, mais tarde, contou que nesse tempo viu um filme que muito a impressionou, O Homem Invisível (1933) de James Whale.[5]
Com voz de soprano, tentou ser cantora lírica, chegando a ir à Alemanha para se especializar em música barroca. O seu sonho terminou por não ter suficiente capacidade física para suportar o esforço do canto. Acabou por sofrer uma lesão pulmonar, indo tratar-se num sanatório perto de Genebra, na Suíça, durante um ano. Aí começou a escrever por recomendação de um médico, que lhe dissera que a criatividade era como um prego dentro de um saco de pano, que haveria sempre de dar sinal, fosse qual fosse o canal. Ofereceu-lhe uma caneta de tinta permanente Parker para esse efeito.[6]
Diplomada em Cinema, pela London Film School, em Londres, onde fazia estadias prolongadas. A 25 de Abril de 1974, a caminho do Egipto, fez uma escalada em Lisboa, para ir ver a sua casa no Estoril. Entusiasmada pela revolução, desistiu da viagem ao Egipto, e ficou em Portugal, durante os anos seguintes. No entanto, a revolução não lhe foi inteiramente benéfica. No plano financeiro sofreu grandes perdas, tendo sido obrigada a vender a casa, a mobília e tudo o que tinha, até conseguir arranjar emprego. Sobreviveu com muita dificuldade nos dois anos a seguir à revolução.[2]
Paralelamente desenvolveu uma carreira como artista plástica, com um extenso número de exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro.
Foi membro da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores e ajudou a fundar o P.E.N.Clube Português, ao qual presidiu. Foi ainda membro destacado do grupo da poesia experimental, nas décadas de 1960 e 70, além de se ter dedicado à investigação e divulgação da literatura portuguesa barroca, fundando as revistas Claro-Escuro e Incidências.
Encontra-se colaboração da sua autoria no jornal 57, entre 1957 e 1962.[8]
Muito jovem, Hatherly teve um relacionamento com o pintor e gravador húngaro, radicado em Portugal, Attila Mendly de Vétyemy, de quem teve a sua única filha, Catarina Hatherly (1949-1970).[9]
Em 18 de setembro de 1952, casou com Henry Mário Frank Hatherly (empresário), em Kensington, Inglaterra, tendo mudado o nome para Anna Maria de Lourdes Rocha Alves Hatherly. Ficou viúva em 21 de Maio de 2000.
Obra Plástica
Hatherly inicia na década de 60 o percurso artístico, por esta altura conclui que a escrita «nunca foi senão representação: imagem». Começará então uma pesquisa em torno da caligrafia (actual e ancestral) e dos signos, cria então aquilo que na sua biografia pela Coleção de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian se chama de "escrita-imagem".
Integra o Grupo Experimentalista Português e participa em diversas exposições com destaque em 1977 para a exposição Alternativa Zero. Em 1992 o CAM da Fundação Calouste Gulbenkian apresenta uma retrospectiva da sua obra, a seguir à qual Ana Hatherly continua a expor em exposições individuais onde apresentou "pinturas evocativas da sua viagem à India, séries inéditas de trabalhos feitos em Londres, neo-graffitis, ou ainda pinturas onde a inquirição da reciprocidade entre a escrita e a visualidade dão lugar a uma pintura despojada"[10].
Exemplo de despojamento e um reflexo do estilo gestualista, mas também da interligação entre a escrita, o desenho, a poesia e a pintura, é a obra Auto Retrato Obliterado, datada de 1996, dois anos antes da publicação do poema Auto Retrato onde Hatherly nos diz "Oculto nele e nele convertido / do tempo ido escusa o cruel trato, / que o tempo em tudo apaga o sentido."[11].
No Restaurante. In Antologia do Conto Fantástico Português. Edições Afrodite de Fernando Ribeiro de Mello (1967). 2.ª edição: idem (1974). [3.ª edição]: Lisboa: Arte Mágica Editores (2003)
Crónicas, Anacrónicas Quase-tisanas e outras Neo-prosas. Lisboa: Iniciativas Editoriais (1977)
O Tacto. In Poética dos cinco sentidos. Lisboa: Livraria Bertrand (1979)
Anacrusa: 68 sonhos. Lisboa: & Etc (Sonhos da Autora comentados por vários autores) (1983)
Elles: um epistolado (com Alberto Pimenta). Lisboa: Editorial Escritor (1999)
O Neo-Ali Babá. In Mea Libra - Revista do Centro Cultural do Alto Minho, n.º 14, Viana do Castelo (2004)
Ensaios e Edições Críticas
Nove Incursões. Lisboa: Sociedade de Expansão Cultural (1962)
O Espaço Crítico: do simbolismo à vanguarda. Lisboa: Caminho (1979)
A Experiência do Prodígio - Bases Teóricas e Antologia de Textos-Visuais Portugueses dos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda (1983)
Defesa e Condenação da Manice. Lisboa: Quimera (Apresentação, notas e fixação do texto) (1989)
Poemas em Língua de Preto dos Séculos XVII e XVIII. Lisboa: Quimera (Apresentação, notas e fixação do texto) (1990)
Elogio da Pintura de Luís Nunes Tinoco. Com estudo crítico de Luís de Moura Sobral, Lisboa: Instituto Português do Património Cultural (1991)
Lampadário de Cristal de Frei Jerónimo Baía. Lisboa: Editorial Comunicação (Apresentação crítica, fixação do texto, notas, glossário e roteiro de leitura) (1991)
O Desafio Venturoso de António Barbosa Bacelar. Lisboa: Assírio & Alvim (Organização e prefácio) (1991)
Triunfo do Rosário: repartido em cinco autos de Sóror Maria do Céu. Lisboa: Quimera (Tradução e apresentação) (1992)
A Casa das Musas: uma releitura crítica da tradição. Lisboa: Editorial Estampa (1995)
O Ladrão Cristalino: aspectos do imaginário barroco. Lisboa: Edições Cosmos (1997)
Frutas do Brasil numa nova, e ascetica monarchia, consagrada à Santíssima Senhora do Rosário de António do Rosário. Lisboa: Biblioteca Nacional (2002)
Poesia Incurável: aspectos da sensibilidade barroca. Lisboa: Editorial Estampa (2003)
Interfaces do Olhar - Uma Antologia Crítica / Uma Antologia Poética. Lisboa: Roma Editora (2004)
↑JOEL, António Augusto (2023). Attila Mendly de Vétyemy, Um Pintor Húngaro na Lezíria. Benavente: Museu Municipal de Benavente / Município de Benavente. p. 105-111. ISBN978-989-8495-14-3
↑Batel, Joana (maio de 2010). «Ana Hatherly». Fundação Calouste Gulbenkian. Consultado em 3 de novembro de 2021
↑Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Revolução». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de dezembro de 2020
↑Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Diga-me, O Que É A Ciência? - I». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de dezembro de 2020
↑Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Música Negativa». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de dezembro de 2020
↑Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Rotura». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de dezembro de 2020