Pioneiro na elaboração de formulações éticas que buscam levar em consideração a comunidade biótica da Terra, Leopold influenciou profundamente o desenvolvimento da ética ambiental presente no movimento conservacionista.[3] Após ter participado da fundação da The Wilderness Society, em 1935 adquiriu terras no interior do Wisconsin, nas quais pôs em prática suas inovadoras ideias sobre a restauração ecológica.[4] Essas experiências seriam postumamente reunidas em sua obra mais importante, A Sand County Almanac.[5]
Biografia
Aldo Leopold nasceu em Burlington, filho de Clara (nascida Starker) e Carl Adolph Leopold, um empresário do ramo de mobília.[6] O menino Leopold cresceu ao ar livre e em contacto com a natureza, e essas experiências foram reforçadas repetidas vezes em sua juventude, durante as férias de verão que costumeiramente sua família passava nas ilhas Cheneaux, em Michigan.[6]
Estudou na Lawrenceville School, em Nova Jérsia, e depois na escola florestal da Universidade de Yale, onde em 1909 recebeu o grau de mestre em ciências florestais.[7] Durante essa época, Leopold desenvolveu uma apreciação pela natureza em termos de ecologia, mas que manteve diversos aspectos de sua apreciação juvenil, principalmente caracterizando-a como uma fonte de recursos naturais e fonte de prazer estético e valor místico. Sua visão da natureza, mesclando elementos pragmáticos e técnicos com outros emocionais e espirituais, mais tarde serviria de inspiração e motivação para repetidas gerações de conservacionistas.[7][8]
Serviu por dezenove anos no Serviço Florestal dos Estados Unidos, inicialmente na seção sudoeste, responsável por Novo México e Arizona, e a partir de 1924 no laboratório de produtos florestais da mesma instituição, em Madison, Wisconsin.[9] Em 1928 deixou o Serviço Florestal e passou a trabalhar de maneira independente.[8]
Em 1933 tornou-se professor do departamento de Agricultura Econômica da Universidade de Wisconsin-Madison. Ensinou na universidade até o fim da vida, vivendo dentro do campus em uma modesta casa de dois cômodos, com sua esposa e filhos.[10] Hoje sua casa é protegida com o estatuto de National Historic Landmark e constitui uma destinação turística.[11]
Como defensor da preservação da vida e das áreas selvagens, Leopold fundou a The Wilderness Society em 1935.[4] Morreu de um ataque cardíaco em 1948, enquanto combatia um incêndio em uma propriedade vizinha à sua.[8] Criada por proposta sua e nomeada em sua honra, a área protegidaAldo Leopold Wilderness faz limite com a Gila National Forest no Novo México.[12]
Os escritos de Leopold sobre a natureza são notáveis por sua singeleza e clareza.[13] Seus retratos das paisagens naturais onde viveu, ou que conheceu a fundo, falam com intimidade sobre o que ocorre e o que existe na natureza. Também apresentam críticas contundentes à cultura e à sociedade que têm se apropriado da Terra, eclipsando o sentido de comunidade com a natureza da qual o ser humano faz parte.[13] Ele afirmava que a segurança e a prosperidade que as tecnologias oferecem ao homem, lhes dá também o tempo para refletir sobre a riqueza da natureza e o seu funcionamento.[2][14]
Seu livro A Sand County Almanac ("Um almanaque do Sand County) foi publicado postumamente em 1949[15] e junto com Primavera silenciosa, de Rachel Carson, é considerado o livro mais influente dentro do movimento conservacionista norte-americano e um dos mais influentes em todo o mundo.[16][17] Trata-se de uma combinação de história natural, literatura naturalista e filosofia. É muito conhecido por diversas de suas passagens, como aquela em que definiria a ética da terra: "Uma coisa está bem enquanto tende a preservar a integridade, estabilidade e a beleza da comunidade biótica. Está mal, se tende a fazer o contrário".[18]
Conservação
Em The Ecological Conscience, uma seção The Land Ethic, por sua vez um capítulo de A Sand County Almanac, Leopold trata em maior detalhe da questão dos métodos em larga escala da conservação. Ele escreve que "a conservação é um estado de harmonia entre o homem e a terra" e completa dizendo ser necessária uma educação conservacionista mais forte.[19] Segundo Leopold, a educação ambiental existente até então, em fins dos anos 1940, resumia-se à fórmula "obedeça a lei, vote direito, una-se a algumas associações e pratique o tipo de conservação que for rentável em suas próprias terras: o governo fará o resto".[20] Leopold era crítico desse tipo de fórmulas, que para ele elas eram exclusivamente utilitaristas e evitavam questões éticas relevantes.[21] Isso o fez chegar à conclusão de que as obrigações não significam nada se a população não está conscientizada, e de que o problema central era estender a todas as pessoas a consciência sobre a terra.[20][21] Quando escrevia, mostrava-se seguro de que, sem contribuições da filosofia e da religião, a conservação estava condenada a ser um esforço insuficiente.[19]
Com a esperança de abordar questões éticas e de enfrentar desafios educacionais, Leopold apresentou o exemplo da capa superficial do solo de Wisconsin, que se movia lentamente para o mar.[22] A partir de 1933 ofereceu assistência técnica durante 5 anos aos agricultores que desejassem adotar práticas corretivas, e sua oferta obteve aceitação relativamente grande.[22] Uma vez transcorrido o período de 5 anos, contudo, os agricultores deram continuidade às práticas que haviam se mostrado economicamente rentáveis, deixando de lado as práticas que eram de interesse exclusivamente comunitário. Isso se acentuaria nos anos seguintes, e em 1937 a Legislatura de Wisconsin aprovou a Lei de Conservação de Solos do Distrito, que permitiu aos agricultores regular por eles mesmos o uso de suas terras.[22] Com os incentivos adicionais de aconselhamento técnico gratuito e a disponibilidade de empréstimos para a compra de maquinário especializado, os princípios defendidos por Leopold continuaram sendo ignorados.[22][23]
Legado
Frases famosas
Leopold foi um grande inspirador do movimento conservacionista, tendo contribuído de maneira significativa para as definições éticas e técnicas que o caracterizam. Muitas de suas frases e pensamentos tornaram-se referências na área e vêm sendo frequentemente citados:[3]
"A Conservação está chegando a lugar nenhum porque é incompatível com nosso conceito abraâmico de terra. Nós abusamos das terras porque as vemos como objetos que nos pertencem. Quando virmos as terras como uma comunidade à qual pertencemos, talvez comecemos a usa-las com amor e respeito" ― Aldo Leopold, A Sand County Almanac.[24]
"A última palavra em ignorância é o homem que diz de um animal ou planta "o que há de bom nisso?". Se o mecanismo de funcionamento das terras é bom em seu conjunto, então cada uma de suas partes é boa, independentemente se o compreendemos ou não. Se a biota, ao longo das eras, construiu algo de que gostamos mas não compreendemos, então quem senão um tolo descartaria partes aparentemente inúteis? Conservar cada engrenagem e roda é a primeira precaução do mecânico inteligente" ― Aldo Leopold, Round River: From the Journals of Aldo Leopold.[25]
"Estou feliz que não terei que ser jovem em um futuro sem natureza selvagem que me permita ser jovem" ― Aldo Leopold, A Sand County Almanac.[24]
"Existem dois perigos espirituais em não se ter uma fazenda. Um é o perigo de se supor que o café da manhã vem da padaria, e o outro é achar que o aquecimento surge do aquecedor" ― Aldo Leopold, A Sand County Almanac.[24]
Obras, biografias e compilações de artigos
Callicott, J. Baird. 1987. Companion to A Sand County Almanac: Interpretive and Critical Essays. Madison: University of Wisconsin Press. ISBN 0299112306.
Flader, Susan L. 1974. Thinking like a Mountain: Aldo Leopold and the Evolution of an Ecological Attitude toward Deer, Wolves, and Forests. Columbia: University of Missouri Press. ISBN 0826201679.
Lannoo, Michael J. 2010. Leopold's Shack and Ricketts's Lab: The Emergence of Environmentalism. Berkeley: University of Califórnia Press. ISBN 9780520264786.
Leopold, Aldo. 1933. Game Management. Nova York: Charles Scribner's & Sons.
Leopold, Aldo. 2000. A Sand County Almanac: And Sketches Here and There. Topeka: Topeka Bindery. ISBN 9780613924146.
Leopold, Aldo. 2010. Report on a game survey of the north central states. Charleston: Nabu Press. ISBN 9781176940048.
Leopold, Aldo; Brown, David E.; Carmony. Neil B. 1995. Aldo Leopold's Southwest. Albuquerque: University of New Mexico Press. ISBN 9780826315809.
↑ abLeopold, Aldo (1989). A Sand County Almanac, and Sketches Here and There (em inglês). New York, Oxford: Oxford University Press. p. 210 e ss. ISBN9780195059281