O acidente de Goldsboro, em 1961, foi a queda de uma aeronave que ocorreu perto de Goldsboro, Carolina do Norte, em 24 de janeiro de 1961. Um B-52 Stratofortress transportando duas bombas nucleares Mark 39 de 3,8 megatons se desintegrou em pleno voo, derrubando sua carga nuclear na ocorrência.[1] O comandante do voo ordenou que a tripulação ejetasse a 9 000 pés (2 700 m). Cinco homens ejetaram com êxito e pousaram em segurança. Um outro ejetou, mas não sobreviveu ao pouso, e dois morreram no acidente.[2] Informações recentemente desclassificadas, em 2013, mostraram que uma das bombas chegou muito perto de detonar.[3]
O acidente
A aeronave, um B-52G, era da Base Aérea Seymour Johnson, em Goldsboro. Por volta da meia-noite, do dia 23 para o dia 24 de janeiro de 1961, o bombardeiro teve um encontro com uma aeronave de reabastecimento aéreo. Durante o engate, a tripulação da aeronave abastecedora informou ao comandante do B-52, Major Walter Scott Tulloch, que havia um vazamento na asa direita de seu avião. O reabastecimento foi abortado e o controle em terra foi avisado do problema. O B-52 foi orientado a iniciar uma espera padrão ao largo da costa para que seu combustível fosse consumido antes do pouso, para diminuir seu peso. No entanto, quando o B-52 atingiu o local designado para a espera, o piloto informou que o vazamento tinha piorado e que 17 toneladas de combustível tinham sido perdidos em três minutos. A aeronave foi imediatamente direcionada para o pouso na Base Aérea Seymour Johnson.
Ao passar por 10 000 pés (3 000 m) de altitude, durante sua descida até a base aérea, os pilotos não foram mais capazes de manter o avião em uma descida estável e perderam o controle da aeronave. O comandante ordenou que a tripulação ejetasse, o que eles fizeram a 9 000 pés (2 700 m) de altitude. Cinco homens pousaram em segurança. Outro ejetou, mas não resistiu à aterragem, e dois morreram no acidente.[2] O terceiro piloto do bombardeiro, Tenente Adam Sachos, é o único homem conhecido para ter ejetado com sucesso da escotilha superior de um B-52, sem um assento ejetável.[4][5] Embora a última vez que tripulação olhou para a aeronave ela ainda estava inteira, com as duas bombas termonucleares Mark 39 a bordo, a mesma se partiu antes do impacto no solo, lançando as bombas. Os destroços da aeronave cobriram uma área de 5 quilômetros quadrados sobre uma fazenda de tabaco e algodão, em Faro, a cerca de 12 milhas (19 km) ao norte de Goldsboro.[6]
As duas bombas nucleares MK 39 de 3-4 megatons[nota 1] se separaram da aeronave quando esta se desintegrou no ar entre 300 e 610 metros de altitude (1 000 e 2 000 pés). Três dos quatro mecanismos de acionamento de uma das bombas foram ativados, fazendo com que ela executasse muitos dos passos necessários para explosão, tais como o carregamento de capacitores e, de maneira crítica, a soltura de um paraquedas de desaceleração de 30 metros de diâmetro. O paraquedas permitiu que a bomba atingisse o solo com pouco dano.
O resgate da bomba
A bomba que caiu de paraquedas foi encontrada intacta e parada na vertical, devido seu paraquedas ter se enganchado em uma árvore. O Tenente Jack Revelle, perito responsável por desarmar o dispositivo, afirmou que o interruptor de segurança ainda estava em posição segura, apesar dele ter concluído a sequencia restante do armamento.[7][8]O Pentágono afirmou na época que não havia possibilidade de uma explosão e que dois mecanismos de acionamento não tinham sido ativados. Um porta voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos afirmou que a bomba foi desarmada e não poderia explodir.[9] O Ex-militar e analista, Daniel Ellsberg, alegou ter visto documentos altamente sigilosos indicando que o mecanismo de segurança foi o único dos seis presentes na bomba atômica que impediu a detonação.[1][9] Em 2013, informações liberadas como um resultado de uma requisição baseada na Lei de Liberdade de Informação confirmou que um único dispositivo dentre quatro (e não seis) impediu detonação.[10][nota 2]
A segunda bomba afundou em um campo enlameado, a uma velocidade de 1 296 km/h, e se desintegrou sem detonação de seus explosivos convencionais. A cauda foi descoberta a cerca de 20 pés (6,1 m) abaixo do solo. Peças da bomba foram recuperadas.[11][falta página] Embora a bomba tenha se armado parcialmente ao sair da aeronave, um interruptor de alta tensão impediu o seu armamento completo.[7] Em 2013, ReVelle lembrou o momento em que o interruptor da segunda bomba foi encontrado:[12]
Até a minha morte eu nunca vou esquecer de ouvir meu sargento dizer, "Tenente, encontramos o interruptor de segurança." E eu disse, "Ótimo." Ele disse, "Não é ótimo. Está armado."
A escavação da segunda bomba foi abandonada como resultado de incontroláveis inundações do solo. A maioria do estágio termonuclear, contendo o urânio e o plutônio, foi deixado no local, mas o núcleo da bomba foi desmontado e removido.[12] O Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidoso comprou um terreno circular de 120 m (400 pés) sobre o componente enterrado.[13][14] A Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill determinou que a profundidade dos destroços seja seja de 180 ± 10 pés (55 ± 3,0 m).[11][falta página]
Consequências para o projeto do B-52
Asas molhadas com tanques de combustível integrais aumentaram consideravelmente a capacidade de combustível dos modelos B-52G e H, mas foi percebido que sofriam 60% a mais de estresse durante o voo do que asas dos modelos mais antigos. Asas e outras áreas suscetíveis à fadiga foram modificados em 1964, sob a proposta de alteração de engenharia ECP 1050 da Boeing. Isto foi seguido por uma substituição da fuselagem externa e longarinas (ECP 1185), em 1966, e o programa de Aumento de Estabilidade e de Controle de Voo do B52 (ECP 1195), em 1967.[15]
Uma análise posterior da recuperação das armas
Em 2011 o Tenente Jack Revelle, perito responsável por desarmar o dispositivo, afirmou que "chegamos perto pra caramba" de uma detonação nuclear que teria alterado completamente a maioria do leste da Carolina do Norte.[8] Ele também disse que o tamanho de cada bomba era mais de 250 vezes o poder destrutivo da bomba de Hiroshima, grande o suficiente para criar uma zona de mortalidade em 100% dentro de um raio de 8,5 milhas (13,7 km).[12]
Em um relatório de 1969, agora desclassificado e intitulado "Goldsboro Revisto", escrito por Parker F. Jones, um supervisor de segurança nuclear no Sandia National Laboratories, Jones disse que "um interruptor simples, com tecnologia de dínamo e de baixa tensão, separou os Estados Unidos de uma grande catástrofe", e concluiu que "A bomba MK 39 Mod 2 não possuía segurança adequada para o aerotransporte dentro do B-52".[3]
Michael H. Maggelet e James C. Oskins, autores de Broken Arrow: A História Desclassificada dos Acidentes com Armas Nucleares dos EUA, contestam a reivindicação citando um relatório desclassificado. Eles alegam que o interruptor estava em posição segura, a bateria de alta tensão não foi ativada para impedir o carregamento do circuito de disparo e de um gerador de nêutrons necessários para a detonação, e o interruptor foi destruído antes da energização da unidade x (unidade de queima de capacitores). O reservatório de trítio usado para o aumento da fusão também estava cheio e não tinha sido injetado no núcleo. Isso teria resultado em um rendimento principal reduzido e não teria acendido o segundo estágio de fusão da bomba.[16][17]
Legado
Em julho de 2012, o Estado da Carolina do Norte construiu uma histórica placa de estrada na cidade de Eureka, 4,8 km ao norte do local do acidente, comemorando o acidente sob o título "Acidente Nuclear".[18] O memorial não lista os nomes dos três tripulantes que morreram no acidente: Sargento Francis Roger Barnish (35), Major Eugene Holcombe Richards (42), e Major Eugene Shelton (41).
Notas
↑Algumas fontes, como Ralph Lapp, dizem que eram 24 megatons, mas Hansen disse que isso é definitivamente um erro, possivelmente causado por uma casa decimal perdida.
↑Existe incerteza sobre qual das duas bombas chegou perto da detonação, pois diferentes fontes se contradizem nesse ponto.
Referências
↑ abSCHNEIDER, Barry (maio de 1975). «Big Bangs from Little Bombs». Bulletin of the Atomic Scientists: 28. Consultado em 13 de julho de 2009
↑ abSEDGWICK, Jessica (janeiro de 2008). «Bombs Over Goldsboro». This Month in North Carolina History. Consultado em 24 de janeiro de 2012. Arquivado do original em 28 de dezembro de 2011
↑ ab«Goldsboro Revisited». The Guardian. 20 de setembro de 2013. Consultado em 20 de setembro de 2013
↑MATTOCKS, Adam (8 de fevereiro de 2011). Entrevista pessoal.
↑YANCY, N (26 de janeiro de 1961). «Life-Death Story of Flight Told». Greensboro News & Record
↑«Relatório de Acidente Aeronáutico da Força Aérea». 24 de janeiro de 1961
↑ abHARDY, Scott (2005). «The Broken Arrow of Camelot: An Analysis of the 1961 B-52 Crash and Loss of the Nuclear Weapon in Faro, North Carolina». East Carolina University