A Lição de Anatomia do Dr. Tulp (neerlandês: De Anatomische les van Dr. Nicolaes Tulp) é uma pintura a óleo sobre tela de Rembrandt, pintada em 1632. É uma de suas obras mais famosas e revolucionárias.
A pintura foi encomendada pela Associação de Cirurgiões de Amsterdã. O quadro retrata uma aula de anatomia do doutor Nicolaes Tulp, onde ocorre a dissecação da mão esquerda de Aris Kindt,[1] um marginal condenado à morte por assalto a mão armada no dia anterior à lição. Lições de anatomia realmente existiram, e lecionadas por doutores anatomistas, aconteciam em anfiteatros.[2]
A obra foi feita quando Rembrandt tinha apenas 26 anos, logo após se mudar para Amsterdã. O quadro, realista, retrata o desejo e inquietação do homem em busca de conhecimento sobre o funcionamento do corpo humano, seu comportamento e suas verdades.[1]
Técnica
A obra foi pintada com a técnica do chiaroscuro, herdada de Caravagio, e revolucionou a maneira dos artistas produzirem obras envolvendo grupos de pessoas . Os efeitos de luz e sombra agregam à pintura uma noção de perspectiva, assegurando uma ideia de realidade. Pode-se notar este efeito no corte feito para a dissecação do braço e na luminosidade sobre o cadáver, características que colocam o cadáver como centro da pintura.[1]
Ha também um contraste entre a vida e a morte: enquanto o corpo encontra-se deitado e pálido, os personagens à sua volta dão a ideia de movimento e dinamismo.
Análise
Rembrandt quebra barreiras da pintura convencional ao dar maior importância para o fato de estar retratando um acontecimento histórico, assim, transformando o perfil de suas obras. Anteriormente, possuíam um traço mais rígido, de forma que os momentos retratados não aparentavam dinamismo; em geral, eram pinturas mais ensaiadas e planejadas. Com A Lição de Anatomia de Dr. Tulp, estes conceitos foram abandonados.[1]
Há um drama presente na cena que pode ser notado através das expressões faciais dos personagens (estes têm feições intensas), da posição dos corpos, gestos e posturas. Essas características constroem um ambiente de tensão.[1]
Havia um desejo por parte do artista de interpretar - e estudar - o comportamento e psicologia humana; isso reflete nas ações retratadas em tela, como o abaixar para observar o corpo e o movimento da escrita.[1]
O quadro é uma referência para os estudos da relação entre a Arte e a Ciência, com forte presença do realismo. Faz parte da História da Ciência, e permite melhor compreensão do contexto social de descobertas da época, além de propor uma reflexão das relações entre Deus e Homem/Natureza.[1]
Outras versões
A obra tem uma versão desenhada pelo cartunista brasileiro Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica. Essa reeleitura leva o nome de A Lição de Anatomia do Dr. Franjinha, e foi feita do ano de 1998. O quadro substitui as personagens da pintura original por personagens do gibi: Franjinha substitui o doutor Nicolaes Tulp e Sansão - o coelho de pelúcia de Mônica - ocupa o papel do corpo de Aris Kindt.[3] Da esquerda para a direita, do ponto de vista do observador, outros personagens famosos da Turma ficam no lugar nos homens no quadro original: Humberto, Titi, Cascão, Magali, Mônica, Cebolinha e Anjinho.[3] Maurício de Sousa utilizou a técnica de acrílico sobre tela para compor o quadro, de tamanho 117 por 155 cm. [3]